O agronegócio brasileiro se prepara para um novo ciclo de transformação, com foco na recuperação de terras degradadas e no avanço de práticas sustentáveis. Anunciado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o programa Caminho Verde Brasil recebeu um robusto investimento de R$ 30,2 bilhões para financiar sua primeira fase, com a meta inicial de restaurar até 3 milhões de hectares. A medida foi apresentada durante reunião do Conselho Superior do Agronegócio (COSAG), na sede da Fiesp, em São Paulo.
A proposta surge como um braço estratégico da política agrícola brasileira, mirando um horizonte de 40 milhões de hectares restaurados em dez anos. A ideia central é clara: reintegrar áreas degradadas à produção agrícola, mas com critérios rígidos de sustentabilidade e foco na economia de baixo carbono.
Financiamento verde e meta de impacto ambiental positivo
O valor arrecadado no segundo leilão do Eco Invest Brasil garante os recursos para a etapa inicial do programa. Dessa quantia, R$ 17,2 bilhões serão aplicados no Cerrado e R$ 4 bilhões destinados à Mata Atlântica, regiões onde há alta concentração de terras com potencial de regeneração produtiva. O restante dos recursos será distribuído entre a Amazônia (R$ 3,5 bi), Caatinga (R$ 3 bi), Pampa (R$ 1,2 bi) e Pantanal (R$ 1,1 bi).
Esses investimentos não miram apenas na recomposição ecológica, mas também na geração de renda e segurança alimentar. O foco está no uso sustentável do solo, com projetos voltados à fruticultura, cana-de-açúcar, sistemas integrados como ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), além de agroflorestas. Segundo os dados divulgados, 33% das propostas aprovadas priorizam culturas perenes, enquanto 29% apostam nos sistemas integrados. Lavouras anuais e pecuária isolada aparecem em seguida (27%), e as iniciativas dedicadas exclusivamente à restauração florestal somam 11%.
Crédito rural com juro reduzido e exigências ambientais
Para garantir que o Caminho Verde Brasil tenha ampla adesão entre os produtores, o governo criou condições atrativas de crédito. Dez bancos estão autorizados a operar linhas com juros abaixo do mercado, entre eles o Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES, Bradesco, Itaú, Santander, BTG, Votorantim, Rabobank e Safra.
No entanto, o acesso aos recursos exige compromissos ambientais firmes. Um dos critérios indispensáveis é a proibição de desmatamento durante a vigência do financiamento. Além disso, os produtores devem apresentar relatórios anuais de balanço de carbono, reforçando o compromisso com uma agricultura que contribua para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Nova visão para o uso da terra
O programa tem potencial para transformar terras improdutivas em ativos ambientais e produtivos, promovendo inclusão produtiva, recuperação ecológica e fortalecimento das cadeias agroindustriais locais. O próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já declarou que o Brasil pode ser protagonista no fornecimento global de alimentos e energia, sem abrir novas fronteiras agrícolas, mas regenerando áreas já alteradas.
A busca por parcerias internacionais segue em paralelo. O governo brasileiro está em fase final de negociação com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), que pode aportar mais US$ 1 bilhão no programa. Isso reforça a percepção de que o Brasil está, de fato, construindo um novo modelo de desenvolvimento rural, baseado em responsabilidade ambiental, tecnologia e inclusão social.