O cenário de transição ecológica no Brasil ganha um novo impulso com o anúncio da terceira edição do leilão do Programa Eco Invest Brasil. A iniciativa, articulada pelos Ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente e Mudança do Clima, reforça a estratégia do país de se posicionar como um destino sólido e seguro para investimentos sustentáveis de longo prazo. Nesta nova fase, o programa passa a incorporar uma ferramenta decisiva para o investidor internacional: a proteção cambial em condições vantajosas, por meio de um mecanismo de hedge inédito entre países emergentes.
Ao permitir a mitigação parcial das flutuações do real frente ao dólar, o Eco Invest Brasil cria um ambiente mais previsível para a entrada de capital estrangeiro, favorecendo empresas de base tecnológica que operam em setores considerados estratégicos para o futuro do planeta. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o novo modelo representa um marco na história das finanças sustentáveis: “Estamos inaugurando um caminho que alia estabilidade, inovação e compromisso ambiental.”
Com recursos do Fundo Clima, o leilão direcionará capital para que instituições financeiras criem estruturas que ofereçam segurança contra o risco cambial e operacional dos projetos financiados. A lógica é simples, mas eficaz: os bancos selecionados precisarão assumir compromissos de alavancar recursos privados e estabelecer metas de captação em investimentos de equity, ou seja, participação direta em negócios com alto potencial de retorno econômico e ambiental.
Aliás, essa combinação de ativos ambientais e financeiros tem sido celebrada como um sinal do protagonismo brasileiro na agenda climática global. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçou que a medida aproxima o país das melhores práticas internacionais: “Estamos mostrando ao mundo que é possível aliar preservação ambiental, geração de renda e inovação tecnológica em uma mesma política pública.”
Além de fomentar startups e empresas inovadoras, o novo leilão prioriza setores que representam a espinha dorsal da chamada nova economia verde. A lista inclui áreas como bioeconomia, com destaque para cadeias de valor envolvendo superalimentos e biofertilizantes; transição energética, como o uso do hidrogênio verde, biogás e SAF (combustível sustentável de aviação); e economia circular, voltada à reciclagem de baterias, plásticos alternativos e reaproveitamento de resíduos sólidos.
Mais do que apenas atrair recursos, o Eco Invest quer garantir que as tecnologias desenvolvidas possam ser escaladas e replicadas em diferentes contextos, consolidando o Brasil como polo exportador de soluções sustentáveis. Essa visão de longo prazo fortalece o posicionamento do país nas cadeias globais de valor, além de abrir portas para a internacionalização de negócios locais com vocação verde.
A proposta também ganha eco internacional. Segundo Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a experiência brasileira está servindo de modelo para novos programas regionais. “Com base nesse modelo bem-sucedido do Eco Invest, lançamos o FX Edge, uma nova plataforma que pretende ampliar o acesso a capital privado em países em desenvolvimento, com foco na redução da volatilidade cambial.”
A terceira fase do leilão já tem cronograma definido: as instituições financeiras interessadas devem apresentar suas propostas até 19 de novembro de 2025, logo após a publicação da portaria regulamentadora. Os projetos selecionados receberão apoio técnico e financeiro, podendo transformar suas propostas em motores reais da descarbonização e da transformação produtiva.
O Eco Invest Brasil faz parte do Novo Brasil – Plano de Transformação Ecológica, uma agenda coordenada pelo Ministério da Fazenda que pretende redesenhar os pilares da economia nacional com base em três eixos: bioeconomia, indústria verde e finanças sustentáveis. A iniciativa conta ainda com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Embaixada do Reino Unido no Brasil, ambos parceiros estratégicos para dar robustez institucional e confiança ao programa.
Segundo a embaixadora do Reino Unido, Stephanie Al-Qaq, a cooperação entre os dois países reafirma o potencial do Brasil como líder ambiental: “O apoio ao Eco Invest Brasil reflete nosso compromisso com o financiamento climático de impacto e com a criação de novas pontes entre investidores e projetos transformadores.”
Até aqui, os números confirmam a potência da iniciativa. As duas primeiras rodadas do Eco Invest Brasil mobilizaram mais de R$ 75 bilhões, dos quais R$ 46 bilhões têm origem internacional. Parte desses recursos já foi utilizada para destravar investimentos em áreas como saneamento básico e produção de SAF. Na segunda edição, o foco esteve na recuperação de terras degradadas, com resultados expressivos: cerca de 1,4 milhão de hectares restaurados, uma extensão equivalente a nove vezes a área da cidade de São Paulo.
Com a terceira rodada, o Brasil reforça seu posicionamento como uma vitrine global de inovação verde e, ao mesmo tempo, demonstra maturidade institucional para transformar ideias sustentáveis em realidades econômicas robustas.