A partir deste mês de setembro, o Brasil dá um passo inédito na vigilância ambiental da Amazônia com o lançamento do Deter Não Floresta (Deter NF) — um sistema de monitoramento que cobre, diariamente, todo o território do bioma amazônico, incluindo regiões antes negligenciadas pelas ferramentas convencionais.
Desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com apoio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o novo sistema promete detectar qualquer interferência antrópica, mesmo em áreas não florestais, com o uso combinado de satélites de observação da Terra e inteligência artificial.
Uma lacuna histórica que começa a ser preenchida
Até então, os alertas do Deter se limitavam ao que tecnicamente se chama de “corte raso” ou solo exposto em florestas primárias densas, especialmente nas regiões de floresta ombrófila da Amazônia. Isso significava que cerca de 20% do bioma, coberto por formações como campos naturais, savanas e áreas de transição ecológica, não recebia vigilância diária — justamente áreas vulneráveis ao avanço da fronteira agropecuária, da mineração e das queimadas.
O Deter NF, com seu modelo de aprendizado de máquina treinado para interpretar imagens de vegetação nativa não florestal, chega para suprir essa ausência. Todos os alertas gerados serão disponibilizados na plataforma TerraBrasilis, de forma pública e gratuita, permitindo que tanto órgãos de fiscalização quanto a sociedade civil tenham acesso quase em tempo real às mudanças na cobertura vegetal da Amazônia Legal.
Como o Deter NF funciona na prática
A operação do sistema envolve a análise diária de imagens de satélites, processadas com apoio de técnicas de inteligência artificial capazes de identificar desde sinais sutis de degradação até alterações drásticas na vegetação. Entre os principais eventos detectados estão desmatamento, queimadas, mineração ilegal e uso indevido do solo.
A diferença agora está na abrangência: com o Deter NF, torna-se possível detectar intervenções em áreas de cerrado dentro da Amazônia, campos gerais, formações de transição e outras fitofisionomias até então invisíveis aos sistemas de alerta. Essa capacidade representa uma demanda antiga de órgãos como o Ibama, o ICMBio e polícias ambientais estaduais, que muitas vezes esbarravam em ausência de evidências cartográficas atualizadas para embasar ações de campo.
Ferramenta estratégica para a fiscalização e a política pública
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a implementação do novo Deter amplia significativamente a capacidade de resposta do Estado frente aos crimes ambientais. Com os alertas sendo gerados diariamente e com precisão georreferenciada, a fiscalização pode agir de forma mais ágil e certeira, inclusive em regiões que até então só recebiam atenção por meio de denúncias ou inspeções esporádicas.
Outro ponto relevante é o impacto na transparência e no controle social. Por estar hospedado no portal TerraBrasilis, o Deter NF permitirá que qualquer cidadão acompanhe a evolução do uso da terra em tempo quase real, fortalecendo a vigilância ambiental descentralizada.
Redução do desmatamento já é perceptível em algumas frentes
Apesar de o Deter NF ter sido lançado oficialmente em setembro de 2025, os dados de alertas de supressão de vegetação do mês de agosto já mostram tendências positivas. Em comparação com o mesmo mês de 2024, o Deter Florestal registrou queda de 36,6% nos alertas na Amazônia, além de reduções significativas no Cerrado (27,3%) e no Pantanal (16,8%).
A única alta foi justamente nas áreas não florestais da Amazônia, com aumento de 8% — um dado que reflete a nova capacidade de detecção e não necessariamente uma escalada de degradação.
Próximos passos: rumo à cobertura total do país
Atualmente, a soma dos sistemas Deter cobre mais de 75% do território nacional. O objetivo, segundo o Inpe, é avançar para os biomas Mata Atlântica, Caatinga e Pampa, que ainda não contam com monitoramento diário. Com isso, o Brasil se prepara para um novo patamar de governança ambiental baseada em dados abertos, ciência aplicada e tecnologia de ponta.