Resumo
• O IBGE iniciou a prova piloto do 12º Censo Agropecuário para testar métodos, logística e tecnologia antes da operação nacional.
• A etapa inclui, pela primeira vez, sistemas produtivos de povos e comunidades tradicionais, ampliando o retrato do campo brasileiro.
• Seis municípios em quatro estados foram escolhidos por sua diversidade produtiva, social e ambiental, permitindo avaliar cenários distintos.
• O teste valida o desempenho do questionário digital, a transmissão dos dados e a abordagem aos produtores em diferentes biomas.
• A fase piloto reforça o compromisso de produzir um censo mais completo, preciso e representativo das realidades rurais do país.
A partir do dia 1º de dezembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dá início à prova piloto do 12º Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola, etapa essencial que antecede a operação nacional prevista para os próximos meses. O objetivo é claro: garantir que os instrumentos de coleta, os processos logísticos e os protocolos operacionais estejam calibrados para refletir, com precisão, as múltiplas realidades da produção agropecuária e das comunidades tradicionais no território brasileiro.
Além de testar o desempenho técnico dos dispositivos digitais, da transmissão dos dados e da abordagem em campo, essa fase introduz uma inovação histórica. Pela primeira vez, o levantamento censitário contemplará, de forma detalhada, os sistemas produtivos de povos e comunidades tradicionais, ampliando o escopo estatístico para além das estruturas convencionais da agropecuária. A proposta é dar visibilidade à agricultura familiar, ao extrativismo, à pesca artesanal, aos assentamentos e às práticas ancestrais, compondo um mosaico mais representativo do rural brasileiro.
Com início simultâneo em seis municípios — Nova Friburgo (RJ), Juazeiro e Sobradinho (BA), Alfenas e Grão Mogol (MG) e Bacabal (MA) —, a prova piloto foi desenhada estrategicamente para contemplar diferentes biomas, cadeias produtivas e arranjos culturais. Em Alfenas, por exemplo, o cenário é dominado pela cafeicultura e pecuária leiteira, com o adicional da atividade aquícola nas margens da Represa de Furnas. Já em Grão Mogol, o Cerrado mineiro abriga geraizeiros, veredeiros e extrativistas, formando um ecossistema sociocultural complexo que exige abordagens específicas no momento da coleta.
Na Bahia, dois municípios da Caatinga foram selecionados por sua diversidade produtiva e social. Juazeiro, referência em fruticultura irrigada, reúne experiências de agricultura familiar, assentamentos rurais e comunidades tradicionais como quilombolas, pescadores e extrativistas. Sobradinho, por sua vez, destaca-se pelos grandes perímetros irrigados e pela presença expressiva de fundos e fechos de pasto, além de pesqueiras e ribeirinhas.
A Região Nordeste também participa por meio de Bacabal, no Maranhão, uma cidade localizada na transição entre os biomas Amazônia e Cerrado. O município reúne quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, extrativistas e populações indígenas, incluindo aldeias no município vizinho de Bom Jardim, onde serão realizados testes específicos de abordagem com essas comunidades. O Rio Mearim e seus lagos também serão avaliados quanto ao potencial de inclusão da aquicultura artesanal na base de dados do Censo.
No Sudeste, Nova Friburgo representa uma realidade bem distinta. Com produção hortifrutigranjeira em relevo montanhoso, a cidade fluminense exigirá do IBGE métodos adaptados para ambientes onde o acesso é mais difícil e o território é fragmentado. A região da Mata Atlântica também é palco de experiências agroecológicas e produções locais de menor escala que desafiam os formatos tradicionais de coleta.
Essa fase do Censo Agropecuário também marca o fortalecimento das soluções digitais adotadas pelo IBGE. O questionário, totalmente digital, será testado em sua capacidade de registrar informações com agilidade, precisão e segurança — desde a entrevista até a centralização dos dados nos sistemas nacionais. Além disso, serão observadas variáveis como a receptividade dos produtores, a compreensão das perguntas e a fluidez da interação entre o recenseador e a comunidade.
Distribuídos entre as equipes de campo, materiais como cartilhas, folders, adesivos e leques fazem parte da estratégia de comunicação visual da operação, reforçando a identidade da pesquisa junto aos produtores. O teste, portanto, vai além do formulário: ele mede a temperatura da logística em campo, dos instrumentos de sensibilização e da eficácia de cada etapa operacional.
A expectativa é que, com a validação dessa fase, o Brasil esteja pronto para executar um dos censos agropecuários mais completos e representativos de sua história recente. A inclusão dos povos tradicionais, a ampliação do escopo temático e o investimento em tecnologia reforçam o compromisso de retratar, com fidelidade, a pluralidade do campo brasileiro — dos grandes empreendimentos agroindustriais aos sistemas ancestrais de produção, que sustentam vidas, culturas e ecossistemas inteiros.



