O fogo que consome a vegetação também devora oportunidades, destrói ecossistemas inteiros e expõe a fragilidade das cidades diante das mudanças climáticas. Em 2024, os incêndios florestais custaram aos cofres públicos mais de R$ 2,1 bilhões, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Os efeitos desse avanço do fogo ultrapassaram as barreiras ambientais: atingiram diretamente a vida de 19,2 milhões de brasileiros e comprometeram áreas essenciais como agricultura, pecuária e a infraestrutura municipal.
O estudo, intitulado “Incêndios Florestais e seus Impactos nos Municípios Brasileiros”, traça um panorama alarmante sobre a frequência e a intensidade das queimadas em todo o território nacional. A análise, que compreende o período entre 2013 e 2024, identificou mais de 2,3 milhões de focos de incêndio, um número que reforça a urgência de ações preventivas e estratégias de adaptação climática em nível local e federal.
Os prejuízos vão além do campo: cidades também são atingidas
Embora o imaginário coletivo relacione incêndios florestais apenas às zonas rurais, os dados da CNM mostram que os impactos urbanos são expressivos. A fumaça que encobre os céus das cidades não só compromete a saúde respiratória da população, como também afeta a economia dos municípios, que precisam alocar recursos emergenciais para combater as chamas, reparar estradas danificadas, restaurar sistemas de abastecimento de água e recuperar áreas de preservação permanente.
Além disso, a interrupção na produção agrícola em diversas regiões, especialmente nas áreas que integram o agronegócio nacional, resultou em perdas bilionárias. Produtos deixaram de ser colhidos, rebanhos foram sacrificados, e a contaminação do solo dificultou o replantio. Estima-se que R$ 3,3 bilhões em prejuízos econômicos tenham sido acumulados desde 2013, consolidando os incêndios como uma das maiores ameaças à segurança ambiental e alimentar do Brasil.
A floresta queimada é um alerta vivo
Em regiões como o Cerrado, a Amazônia Legal e a Caatinga, a vegetação devastada revela um padrão cíclico de degradação, acentuado por eventos climáticos extremos, como ondas de calor prolongadas e estiagens fora de época. O desequilíbrio hídrico, aliado à expansão da fronteira agrícola sem planejamento e à ausência de políticas públicas robustas de combate ao fogo, transforma a paisagem brasileira em um território vulnerável.
O estudo também aponta que o número de pessoas afetadas ultrapassa os 24,7 milhões ao longo da última década, o que inclui desde evacuados de áreas de risco até populações que convivem diariamente com a perda da biodiversidade local, a redução da qualidade do ar e o colapso parcial de serviços públicos essenciais.
Quando o fogo vira política de Estado
Diante da escalada dos incêndios e de seus custos sociais e econômicos, os dados da CNM reforçam a necessidade de políticas públicas permanentes de prevenção, monitoramento e recuperação ambiental. O combate ao fogo não pode se restringir à temporada de seca. É preciso investir em tecnologia de detecção precoce, fortalecer a atuação dos brigadistas e articular parcerias entre municípios, estados e governo federal para criar planos regionais de resiliência climática.
A devastação de 2024 se soma a uma década de negligência e serve como mais um alerta contundente. Em tempos de aquecimento global, cada árvore queimada representa não apenas a perda de uma vida vegetal, mas o colapso de um ecossistema inteiro — com impactos que reverberam por gerações.