Agosto trouxe um alívio inesperado ao orçamento das famílias brasileiras. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação de 0,11% no mês, após uma elevação de 0,26% em julho. Esse resultado reverte a tendência de alta observada nos meses anteriores e representa o menor índice para agosto desde 2020, quando o país ainda enfrentava os primeiros impactos da pandemia.
Com o novo dado, a inflação acumulada em 2025 chegou a 3,15%, enquanto o índice acumulado dos últimos 12 meses desacelerou de 5,23% para 5,13%. Em agosto do ano passado, o IPCA havia recuado levemente, em 0,02%.
Energia e hortifrútis foram os vilões da alta — mas agora viraram aliados da queda
Entre os nove grupos que compõem o indicador, cinco registraram variação negativa. O maior destaque foi o setor de habitação, que apresentou uma queda de 0,90%. Essa retração foi impulsionada principalmente pelo recuo de 4,21% na tarifa de energia elétrica residencial, efeito direto do crédito do Bônus de Itaipu que chegou às contas de luz neste período. Sozinho, esse item teve impacto de -0,17 ponto percentual no índice geral.
A alimentação, que tradicionalmente tem grande peso na formação do IPCA, também contribuiu para o movimento de queda, com retração de 0,46% — terceiro recuo consecutivo do grupo. Produtos básicos que compõem a mesa do brasileiro ficaram mais baratos, com destaque para o tomate, que teve queda expressiva de 13,39%, e a batata-inglesa, que recuou 8,59%. A cebola também caiu 8,69%, seguida pelo arroz (-2,61%) e o café moído (-2,17%).
A alimentação fora de casa, por sua vez, desacelerou, mas manteve viés de alta: saiu de 0,87% em julho para 0,50% em agosto, mostrando que, mesmo com a queda dos insumos, os preços nos restaurantes ainda não refletem integralmente esse movimento.
Transportes também ajudaram, com passagens e combustíveis mais baratos
Outro setor que colaborou com a deflação foi o de transportes, com uma variação negativa de 0,27%. As passagens aéreas, tradicionalmente voláteis, recuaram 2,44%, enquanto os combustíveis também aliviaram o IPCA, com destaque para a gasolina (-0,94%) e o etanol (-0,82%).
Essa combinação de fatores mostra um comportamento de preços mais benigno e indica um possível fôlego para o Banco Central em sua estratégia de cortes na taxa de juros, especialmente em um momento de menor pressão inflacionária global.
Educação, saúde e vestuário mantêm pressão localizada nos preços
Apesar do recuo geral, alguns setores seguiram com reajustes pontuais. O grupo educação foi o que mais subiu, com alta de 0,75%, puxada por aumentos nos cursos regulares, especialmente no ensino superior (1,26%) e no ensino fundamental (0,65%). Cursos livres, como os de idiomas, também apresentaram avanço expressivo, com variação de 1,87%.
Já o segmento de vestuário subiu 0,72%, influenciado pelas roupas masculinas (0,93%) e pelos calçados (0,69%). O grupo de saúde e cuidados pessoais apresentou elevação de 0,54%, com impacto tanto de produtos de higiene (0,80%) quanto dos planos de saúde (0,50%).
Por fim, o grupo de despesas pessoais também registrou avanço de 0,40%, impulsionado por reajustes em serviços como jogos de azar, que aumentaram 3,60% no mês.