Resumo
Laudo da UFSC aponta que a espuma na Lagoa da Conceição é causada por poluição e proliferação de microalgas nocivas, afastando causas naturais.
As algas Raphidophyceae liberam muco e toxinas que afetam peixes, crustáceos e podem causar riscos à saúde humana.
O excesso de esgoto e o revolvimento de sedimentos orgânicos criam condições ideais para o crescimento das algas.
Dragagens e obras sem avaliação ambiental agravam o problema, liberando nutrientes e cistos dormentes no fundo da lagoa.
O estudo recomenda remoção imediata da espuma, descontaminação da água e monitoramento permanente do ecossistema
A aparição de uma camada espessa de espuma branca sobre as águas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, reacendeu o alerta sobre a qualidade ambiental do ecossistema lagunar. Um laudo técnico elaborado por cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) concluiu que o fenômeno está diretamente relacionado à presença de poluição e à proliferação de microalgas potencialmente tóxicas, afastando a hipótese de uma causa natural.
Os pesquisadores identificaram a presença da microalga Raphidophyceae, conhecida por formar as chamadas “marés marrons”, fenômenos que alteram a cor da água e reduzem drasticamente a oxigenação do ambiente. A espécie libera um muco viscoso que pode obstruir as brânquias de peixes e crustáceos, levando-os à morte. Além disso, sob determinadas condições, essas algas podem produzir toxinas que afetam também os seres humanos.
De acordo com o laudo, os fatores mais prováveis para o surgimento das espumas incluem o excesso de nutrientes provenientes de esgoto doméstico e a ressuspensão de matéria orgânica acumulada no fundo da lagoa — resultado do movimento de sedimentos e da presença de compostos poluentes. Esse processo cria um ambiente ideal para a multiplicação das algas e para a formação da espuma observada nas últimas semanas.
Impacto da poluição e das intervenções humanas
As análises revelaram que o problema se intensifica devido à interferência humana direta. Obras e dragagens realizadas sem estudos prévios acabam remexendo o fundo da lagoa, liberando nutrientes e ativando cistos dormentes dessas microalgas. Assim, o ecossistema é desestabilizado e ocorre uma floração repentina, com impacto visível na coloração e textura da água.
A equipe da UFSC enfatiza que as condições de poluição e a falta de tratamento adequado dos efluentes estão criando um ciclo de contaminação contínuo. Além de comprometer a vida aquática, o desequilíbrio afeta também a paisagem natural e as atividades econômicas e recreativas ligadas ao turismo na região.
Urgência de ações de contenção e recuperação
O documento recomenda uma remoção imediata da espuma e a implementação de medidas emergenciais de descontaminação da água. Entre as principais ações sugeridas estão a interrupção do bombeamento de efluentes não tratados para as dunas da Joaquina e a adoção de Soluções Baseadas na Natureza (SBN) para o tratamento e destinação dos resíduos líquidos da região.
Os pesquisadores também propõem a criação de um sistema de monitoramento permanente da qualidade da água e dos sedimentos da Lagoa da Conceição, em parceria com instituições ambientais e universidades, para evitar novas ocorrências. O objetivo é garantir que o ecossistema lagunar recupere seu equilíbrio e continue a ser um símbolo natural da capital catarinense.