O controle eficaz de doenças virais no rebanho bovino é um dos pilares para manter a produtividade, a qualidade do leite e a competitividade no mercado internacional. Com esse objetivo, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) iniciou um projeto inovador para desenvolver e fabricar no Brasil um teste diagnóstico da leucose enzoótica bovina (LEB), enfermidade de impacto silencioso, porém relevante na pecuária leiteira.
O estudo é fruto de uma parceria técnica com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e tem como foco o desenvolvimento de um kit Elisa — Ensaio de Imunoabsorção Enzimática —, método amplamente reconhecido por sua precisão na identificação de retrovírus em animais mesmo assintomáticos. A produção ocorrerá na nova planta industrial do Tecpar em Curitiba, projetada para atender com alta capacidade o setor veterinário.
Brasil se movimenta para substituir kits importados
Hoje, o mercado nacional conta com apenas dois kits Elisa registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), ambos produzidos no exterior. A iniciativa do Tecpar representa um avanço estratégico rumo à soberania tecnológica no setor de insumos veterinários, além de ampliar o acesso a ferramentas de diagnóstico confiáveis por parte dos produtores rurais.
O projeto se destaca também por sua conexão internacional. Além da equipe paranaense, a pesquisa conta com apoio do Instituto Pasteur de Montevidéu, no Uruguai, e é liderada pela farmacêutica Rossana Baggio Simeoni, especialista em microbiologia e pós-doutora em Ciências da Saúde.
Segundo a pesquisadora, o trabalho vai além da criação de um único teste. “Estamos desenvolvendo uma plataforma tecnológica nacional para o método Elisa, o que poderá abrir caminho para a fabricação de uma série de novos kits veterinários, reforçando o papel do Tecpar como produtor de biotecnologia de ponta”, destaca.
O desafio invisível da leucose bovina
A leucose enzoótica bovina é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus da leucose bovina (BLV). Sua principal forma de transmissão ocorre entre animais da mesma espécie, tanto por contato direto quanto por via indireta, como secreções, leite contaminado ou instrumentos com resíduos de sangue infectado. A infecção vertical — da matriz para o feto — também é possível, o que aumenta os riscos em rebanhos de alta produtividade.

Embora seja assintomática na maioria dos casos, a doença pode se manifestar na forma maligna, com crescimento de tumores associados a distúrbios linfoproliferativos, acometendo de 1% a 10% dos bovinos contaminados. Quando isso ocorre, as perdas econômicas podem ser significativas, principalmente pela redução da produção leiteira, descarte de animais e restrições sanitárias.
Internacionalmente, o diagnóstico da LEB já é requisito para exportação de gado vivo a países como Japão, Coreia do Sul, Israel, Emirados Árabes, União Europeia e China. No Brasil, a doença é de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), mas ainda não integra os programas sanitários oficiais. No Paraná, os casos devem ser informados à Adapar, a agência estadual de defesa agropecuária.
Centro de produção será referência para o diagnóstico animal
Para atender à demanda por insumos e ampliar a capacidade de resposta às necessidades sanitárias da agropecuária, o Tecpar está construindo o novo Centro de Insumos para Diagnósticos Veterinários (CIV), no câmpus CIC, em Curitiba. A unidade terá cerca de 3 mil metros quadrados e capacidade para produzir até 40 milhões de doses por ano.
Com previsão de atender inicialmente a produção de insumos para diagnóstico de leucose, brucelose e tuberculose, o centro será um marco na estrutura nacional de apoio à saúde animal. O investimento, de R$ 41,5 milhões, é custeado pelo Governo do Paraná e integra o esforço estadual de consolidar o protagonismo tecnológico na produção agropecuária.
Além disso, o Tecpar está engajado na colaboração com a comunidade veterinária. Um questionário digital está disponível para profissionais de todo o país contribuírem com informações sobre a realidade do diagnóstico da leucose bovina em campo. A expectativa é que os dados auxiliem no refinamento da tecnologia e fortaleçam a aplicação prática do produto final.