Resumo
- Luiz Alves, em SC, se destaca pelo desenvolvimento rural impulsionado pela banana e pela cachaça artesanal, ambas com certificações de origem reconhecidas.
- A cachaça local recebeu Denominação de Origem em 2024 e já foi premiada internacionalmente, valorizando a tradição de alambiques familiares ativos desde 1916.
- A banana representa 90% da economia agrícola local, com exportações para o Mercosul e qualidade reconhecida por sua doçura e sabor únicos.
- O município pede apoio para infraestrutura rural, incluindo pavimentação de estradas, internet e energia trifásica, essenciais para manter a qualidade da produção.
- Deputados da Comissão de Agricultura apoiaram o modelo de Luiz Alves e destacaram a força da gestão local na valorização do agro e da tradição regional.
A pequena Luiz Alves, cidade catarinense cravada entre montanhas e vales úmidos, encontrou nas tradições de cultivo e destilação o motor para uma nova fase de crescimento econômico e visibilidade nacional. Com a banana como pilar agrícola e a cachaça artesanal como emblema cultural, o município tem se destacado como um modelo de desenvolvimento rural baseado na valorização de sua identidade produtiva — reconhecimento que agora chega também à Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa.
Durante sessão itinerante, lideranças locais ocuparam a tribuna para compartilhar como o trabalho da terra, aliado a certificações de origem e à dedicação das famílias rurais, tem transformado o cotidiano da região. A pauta recebeu atenção especial de deputados que, além de elogiar o modelo de gestão, ouviram pedidos por mais infraestrutura no campo para sustentar esse crescimento.
Indicação geográfica: reconhecimento que impulsiona o agro local
O deputado Altair Silva (PP), que abriu espaço na Comissão, destacou a importância estratégica das certificações como a Indicação Geográfica (IG) e a Denominação de Origem (DO) para produtos agrícolas. “Essa identificação agrega valor e abre mercados”, resumiu o parlamentar, referindo-se tanto à banana quanto à cachaça como ativos econômicos que carregam história e sabor únicos.
A secretária municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Vanessa Correa de Andrade, emocionou-se ao relembrar a trajetória da cidade, enfatizando que a cachaça de Luiz Alves foi reconhecida com DO em 2024 pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), graças à combinação de solo, clima e um modo de produção artesanal que atravessa gerações. “O uso de leveduras nativas e o envelhecimento em madeira nobre conferem à bebida uma assinatura que já foi premiada internacionalmente, inclusive na maior feira de destilados do mundo, em Bruxelas”, reforçou.
A banana como motor da economia e da sucessão no campo
Se a cachaça atrai prêmios e turistas, a banana é o coração econômico do município. Responsável por 90% da produção agrícola local, ela fez de Luiz Alves o segundo maior produtor de Santa Catarina e o quarto no ranking nacional. Segundo Vanessa, a Indicação de Procedência (IP) foi concedida à fruta pelo sabor e doçura excepcionais, tornando-a um diferencial competitivo inclusive no mercado externo. “Exportamos para países do Mercosul, como Uruguai e Argentina. Só Luiz Alves produz o equivalente a 160 bananas por ano para cada catarinense”, destacou.
Esse sucesso não veio por acaso. A produção de bananas ganhou força a partir de 1976, durante uma crise econômica, e desde então consolidou-se como atividade central em cerca de 400 propriedades. A fruticultura não só transformou a paisagem rural, como também garantiu sucessão familiar em muitas delas — um feito cada vez mais raro em outras regiões do país.
Cachaça com história: tradição artesanal que virou turismo
A cachaça de Luiz Alves carrega quase um século de história. O primeiro alambique oficial da cidade surgiu em 1916, e desde então a atividade cresceu com base em métodos tradicionais, que incluem fermentação com melado de cana e destilação em fornos à lenha. Hoje, a cidade conta com 10 alambiques ativos, muitos deles comandados pelas mesmas famílias há décadas, que seguem transmitindo saberes de geração em geração.
A consagração desse saber se deu também com a criação da Rota da Cachaça em 2018, a primeira do tipo no Brasil. O roteiro turístico leva visitantes aos alambiques, permitindo conhecer de perto o processo de fabricação e as nuances sensoriais das bebidas envelhecidas em barris de carvalho, amburana ou bálsamo. A tradição, agora reconhecida por sua origem, tornou-se símbolo da cidade e um novo vetor para o turismo rural.
Infraestrutura no campo: entrave para o próximo salto
Apesar dos avanços, o município ainda enfrenta desafios que podem comprometer o fôlego do setor. Entre os pedidos apresentados à Comissão, a ampliação da infraestrutura rural foi central. A necessidade de pavimentação das estradas vicinais, a expansão da rede de internet no campo e a implementação de energia trifásica foram algumas das reivindicações feitas pelos representantes locais.
Segundo Vanessa, a banana exige cuidados precisos durante a colheita e armazenamento, como o uso de câmaras frias e manuseio delicado — condições que dependem diretamente de logística eficiente e eletrificação rural. A falta desses recursos, explicou ela, afeta diretamente a qualidade final do produto e limita a capacidade de expansão dos produtores.
Deputados apoiam modelo e reconhecem urgências
A fala da secretária encontrou eco entre os parlamentares. O deputado José Milton Scheffer (PP) classificou as demandas como “fundamentais para a agricultura familiar”. Marcos Vieira (PSDB) lembrou que a Assembleia Legislativa já destinou recursos para facilitar a ligação de Luiz Alves à SC-108, rodovia estratégica para o escoamento agrícola. Já Berlanda (PL) reforçou que a conectividade no campo é hoje tão essencial quanto as estradas. E Antídio Lunelli (MDB) valorizou a presença de mulheres na gestão municipal, reconhecendo o protagonismo feminino na condução do desenvolvimento rural.



