Recuperar o verde nas áreas agrícolas do estado de São Paulo pode ser o caminho mais promissor para ampliar colheitas, garantir a presença de polinizadores e ainda gerar bilhões de reais em valor para o agronegócio. Uma pesquisa inovadora, parte do projeto Biota Síntese, mostrou que o retorno econômico da polinização impulsionada por ecossistemas restaurados pode ultrapassar R$ 4 bilhões por ano no PIB paulista.
Longe de ser apenas um benefício ambiental, a presença de abelhas e outros polinizadores é diretamente proporcional à produtividade de diversas culturas. Quando as lavouras são rodeadas por fragmentos de vegetação nativa, esse fluxo natural de insetos é favorecido, contribuindo com o aumento do número de frutos, do tamanho das colheitas e até da qualidade dos alimentos. A novidade é que agora esse impacto foi quantificado com precisão, em uma análise que combinou imagens de satélite, mapeamentos em alta resolução e projeções econômicas.
A importância de integrar produção e conservação
O estudo avaliou milhares de hectares agrícolas do estado e demonstrou, pixel a pixel, como áreas com maior cobertura vegetal favorecem os serviços ecossistêmicos da polinização. O levantamento utilizou ferramentas geoespaciais para cruzar dados sobre culturas agrícolas com informações sobre fragmentos de matas, cerrados e campos. Assim, foi possível entender quais cultivos são mais dependentes da presença de polinizadores — e onde a restauração da vegetação poderia gerar mais impacto.
Entre os principais beneficiados estão culturas de alta relevância para a economia paulista, como soja, laranja e café, que juntas poderiam representar um acréscimo anual de mais de R$ 3 bilhões, caso o fluxo de polinização fosse otimizado por meio da recomposição da paisagem nativa. Ainda segundo o levantamento, cultivos permanentes, como goiaba, abacate e manga, e temporários, como feijão, tomate e amendoim, também apresentariam incrementos expressivos no valor da produção, somando mais de R$ 1 bilhão.
Paisagens mais diversas, lavouras mais resilientes
O modelo de agricultura intensiva e homogênea, ainda dominante em diversas regiões do estado, mostra-se cada vez mais vulnerável à queda da biodiversidade. A homogeneização das paisagens limita a circulação de insetos polinizadores e empobrece os ecossistemas. A pesquisa chama atenção para a urgência de adotar práticas que conciliem conservação ambiental e produção agrícola, como a restauração de corredores ecológicos e a proteção de matas ciliares.
Essa abordagem também oferece um antídoto contra a insegurança climática: ao garantir maior diversidade vegetal nas imediações das lavouras, o sistema se torna mais equilibrado, adaptável e produtivo. Além disso, os serviços prestados pela natureza — como a polinização — são gratuitos, contínuos e de valor inestimável.