O avanço das políticas públicas voltadas à transição energética no Brasil já começa a impactar o cenário do biodiesel. A decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de elevar para 15% a mistura obrigatória de biodiesel no diesel a partir de agosto de 2025 vem provocando ajustes imediatos nas estimativas do setor — e aquecendo a procura por seus principais insumos, especialmente o óleo de soja.
Embora a expectativa de crescimento do consumo de diesel B tenha sido revista levemente para baixo, caindo de 3,0% para 2,7%, o volume de biodiesel previsto para 2025 segue em expansão. A nova projeção indica que o país deve consumir cerca de 9,8 milhões de metros cúbicos do biocombustível, o que representa um crescimento relevante de 8,9% em comparação com 2024.
Esse crescimento já se reflete na movimentação da cadeia produtiva, especialmente no campo. O consumo de óleo de soja destinado à produção de biodiesel acompanha essa tendência e deve alcançar a marca de 7,9 milhões de toneladas em 2025, uma alta de 10,3% sobre o ano anterior. Até agora, já foram utilizadas 3,66 milhões de toneladas, o que representa um avanço de 8,2% em relação ao mesmo período do ano passado. O ritmo de crescimento tem consolidado o óleo de soja como insumo dominante na matriz de biodiesel, superando 85% da composição utilizada nos primeiros meses do ano.
Com a pressão sobre o óleo vegetal crescendo, o setor vê no sebo bovino uma alternativa capaz de aliviar parte da demanda. O produto, que teve exportações expressivas para os Estados Unidos nos primeiros sete meses de 2025, com alta de 84% em relação ao ano anterior, poderá agora ser redirecionado ao mercado interno. A tarifa de importação de 50% imposta recentemente por aquele país pode funcionar como uma barreira comercial que, curiosamente, beneficia a oferta doméstica do subproduto.
Nos bastidores do mercado, a movimentação no primeiro semestre revela o aquecimento do setor. As vendas de biodiesel no Brasil totalizaram 4,53 milhões de metros cúbicos, com destaque para o mês de maio, quando foram comercializados 819 mil m³ — maior volume do ano até agora e o quarto maior da série histórica. A força desse desempenho reflete uma combinação de fatores, incluindo o crescimento da frota a diesel, a maior exigência por combustíveis renováveis e o preparo logístico da cadeia produtiva.
Já junho trouxe uma desaceleração natural, com 746 mil m³ vendidos. Essa leve retração, tanto em relação ao mês anterior quanto ao mesmo período do ano passado, foi atribuída ao atraso na colheita da segunda safra de milho, o que deslocou parte da demanda de mistura para o mês seguinte. Ainda assim, o cenário permanece otimista.
A expectativa para o segundo semestre é de aceleração nas vendas, puxadas pela sazonalidade do consumo de diesel B e pela antecipação dos efeitos da mistura B15, que entra em vigor em agosto de 2025. Essa combinação pode gerar um novo recorde histórico mensal, pressionando ainda mais a demanda por óleo de soja. Em resposta, o setor projeta uma reorientação das exportações, priorizando o abastecimento interno e sustentando preços firmes tanto para o óleo quanto para o próprio biodiesel.