Na virada da primeira semana de setembro, o mercado de mandioca testemunhou uma alta de preços que não se via desde outubro de 2024. A valorização, embora pontual, acendeu um alerta entre fecularias, produtores e analistas do setor. A combinação entre baixa oferta da raiz e as condições climáticas desfavoráveis contribuiu para um movimento de alta que rompeu a estabilidade observada nos últimos meses.
Segundo o engenheiro agrônomo Leandro Brito, consultor especializado em cadeias produtivas da mandioca, o cenário atual é resultado de um desequilíbrio clássico entre oferta e demanda. “A colheita foi reduzida não apenas por questões climáticas, mas também por uma decisão estratégica dos produtores, que optaram por segurar a entrega das raízes jovens diante da rentabilidade pouco atrativa”, afirma.
Essa escolha, somada à seca persistente em áreas-chave de produção no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, impactou diretamente o abastecimento das fecularias. Muitas delas enfrentaram dificuldade em manter os volumes industriais, o que levou à pressão sobre os preços no mercado spot.
Cotação da raiz atinge maior patamar desde outubro do ano passado
Entre os dias 1º e 5 de setembro, o preço médio nominal da tonelada de mandioca posta fecularia chegou a R$ 467,43 no prazo, representando uma alta semanal de 2,9%. Convertendo para o valor por grama de amido, o custo ficou em R$ 0,8129. Embora o avanço chame atenção, especialistas destacam que o preço atual ainda está 18,4% abaixo do registrado no mesmo período de 2023, em termos reais, quando ajustados pela inflação.
Para a economista rural Camila Diniz, a valorização recente reflete um comportamento pontual de mercado, mas pode sinalizar uma tendência para os próximos meses. “Se a estiagem se prolongar e a colheita seguir restrita, os preços podem continuar subindo. Mas tudo vai depender do comportamento das chuvas e do apetite das fecularias em repassar esses custos na cadeia”, analisa.
Produtores seguram entrega e priorizam plantas com maior teor de amido
Outro fator relevante nesse contexto é o estágio de maturação das raízes. A mandioca colhida com até 15 meses de plantio geralmente apresenta menor teor de amido, o que reduz sua atratividade comercial. Por isso, muitos agricultores têm preferido aguardar o desenvolvimento completo da planta antes de realizar a colheita. Esse comportamento impacta diretamente a oferta de matéria-prima disponível.
Além disso, o custo elevado de insumos e o aumento da concorrência por áreas agrícolas com outras culturas mais lucrativas, como o milho safrinha e a soja, também influenciam as decisões dos produtores. Assim, a mandioca, tradicionalmente associada à agricultura familiar, enfrenta um cenário desafiador para equilibrar custo de produção e retorno financeiro.