A morte de mais de uma centena de bovinos, caprinos e ovinos nos municípios de Simões e Curral Novo do Piauí acendeu um alerta no setor agropecuário. Em resposta ao episódio, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) determinou a suspensão imediata do uso da vacina Excell 10, produzida pela Dechra Brasil, nos lotes 016/2024 e 018/2024.
O imunizante, indicado para a prevenção da clostridiose — um conjunto de doenças infecciosas causadas por bactérias do gênero Clostridium — está sob investigação após os relatos de reações adversas em animais recém-vacinados.
A medida cautelar vale para todo o território nacional, mesmo nos casos em que o produto já tenha sido adquirido pelos criadores. A determinação foi acompanhada de um comunicado oficial solicitando aos órgãos de sanidade agropecuária estaduais que informem veterinários, produtores rurais e estabelecimentos comerciais sobre a necessidade de interromper imediatamente o uso da vacina.
Reações e investigações em andamento
Segundo apurado, os primeiros óbitos ocorreram cerca de dez dias após a aplicação da vacina, durante o mês de julho. Em Simões, o secretário municipal de Desenvolvimento Rural, Rosenalvo Coelho, confirmou que 11 produtores já relataram perdas significativas. Além do Piauí, os casos se espalharam para outros estados do Nordeste, como Maranhão, Rio Grande do Norte e Sergipe.
As mortes desencadearam uma mobilização técnica. Amostras de animais foram encaminhadas para análise na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e também na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Os laudos laboratoriais devem ficar prontos em até 30 dias e serão fundamentais para confirmar ou não a correlação direta entre a vacina e os óbitos registrados.
Apesar da gravidade do episódio, o MAPA informou que, até o momento, não há evidências de problemas em outros lotes do produto, e tampouco foi confirmada a causa exata das mortes. Ainda assim, recomenda-se que novos casos sejam notificados via o sistema Fala.BR, a fim de auxiliar no mapeamento do impacto e no controle sanitário da situação.
Pronunciamento da fabricante
Em nota oficial, a Dechra Brasil afirmou estar ciente das ocorrências e declarou que as reações vacinais foram observadas principalmente em caprinos e ovinos. Os sintomas incluíram inchaço no local da aplicação, febre passageira e apatia nos animais, com variações na intensidade e duração das reações.
A empresa disse estar colaborando com as autoridades e reforçou que equipes técnicas e de qualidade estão mobilizadas para conduzir uma apuração completa das possíveis causas. Como medida preventiva, solicitou a paralisação das vendas dos dois lotes citados, além de se comprometer com a atualização contínua de informações sobre o caso.
“Nossos esforços estão focados em garantir transparência, segurança e apoio aos profissionais que utilizam nossos produtos. Estamos acompanhando cada relato com máxima atenção e responsabilidade”, afirmou a farmacêutica, reiterando seu compromisso com a qualidade de seus imunizantes.
Preocupação no campo
A suspensão da vacina mobilizou produtores, associações e cooperativas rurais, especialmente diante da importância da clostridiose no contexto da pecuária nacional. A doença, apesar de conhecida e controlável, pode ser letal se não for prevenida corretamente — o que reforça a urgência por esclarecimentos e soluções.
Por ora, o Ministério da Agricultura atua de forma preventiva, mas a expectativa é que os exames laboratoriais possam apontar com exatidão se houve falha na formulação do imunizante, erro de aplicação ou reação isolada associada a fatores ambientais ou genéticos dos animais afetados.
Enquanto isso, os criadores afetados pela perda dos rebanhos buscam amparo técnico e orientações para evitar novos prejuízos. A recomendação é não improvisar substituições e aguardar posicionamentos oficiais para retomada segura da imunização.