Ao se deparar com uma prateleira repleta de rótulos sofisticados e embalagens que prometem o melhor da dieta mediterrânea, o consumidor brasileiro talvez não imagine que boa parte desses azeites pode não conter, de fato, o produto prometido. Desde 2024, o setor de azeites no Brasil passou a ser alvo de uma ofensiva conjunta do Ministério da Agricultura e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que acendeu o alerta vermelho para fraudes em larga escala envolvendo o alimento.
A operação, que se intensificou nos últimos dois anos, resultou na proibição total ou parcial de dezenas de marcas que apresentaram desde adulterações com óleos vegetais baratos até problemas sérios de origem, rotulagem e sanidade. Algumas sequer possuíam registro regular de funcionamento. Em muitos casos, análises laboratoriais apontaram misturas com óleo de soja ou girassol sem qualquer menção no rótulo — prática considerada grave tanto do ponto de vista regulatório quanto da saúde pública.
Segundo os órgãos fiscalizadores, o objetivo principal das interdições é proteger o consumidor de produtos que não apenas violam a legislação brasileira, mas que também representam um risco direto à saúde. Afinal, ao adquirir um azeite extravirgem, por exemplo, o comprador espera um óleo puro, de alta qualidade e com características nutricionais preservadas. Quando há fraude, esse pacto é quebrado — e o prejuízo pode ser silencioso, mas recorrente.
Entre os motivos que levaram à proibição das marcas, destacam-se adulterações com óleos não declarados, ausência de rastreabilidade, origem clandestina, problemas no CNPJ e até mesmo ausência de registro sanitário. Algumas empresas comercializavam azeites com aparência e rótulo similares a produtos importados renomados, o que dificultava ainda mais a identificação por parte do consumidor comum.
Nos meses mais recentes, entre maio e julho de 2025, houve uma nova onda de proibições. Marcas como Alonso, Grego Santorini, La Ventosa, Almazara, Escarpas das Oliveiras e Villa Glória foram vetadas, com lotes interditados em operações realizadas em diferentes estados. Em junho, outras marcas como Málaga, Campo Ourique, Casa do Azeite, Terrasa, Castelo de Viana e San Martín também foram retiradas de circulação após inspeções apontarem falhas graves na composição e procedência dos produtos.
A fiscalização se estendeu ainda a marcas que já vinham sendo investigadas desde o ano anterior. Durante 2024, nomes como Terra de Óbidos, Don Alejandro, Oviedo, Imperial e Ouro Negro já haviam sido alvo de alertas do Ministério da Agricultura. As irregularidades encontradas nesses casos variavam entre o uso de ingredientes de baixa qualidade, ausência de controles sanitários e até mesmo comercialização por empresas inexistentes no cadastro nacional.
Para o consumidor, a recomendação é redobrar a atenção na hora da compra. Verificar se o produto possui registro no Ministério da Agricultura, observar a procedência e desconfiar de preços muito abaixo do mercado são medidas essenciais para evitar levar um produto fraudado para casa. Além disso, o governo reforça que denúncias podem ser feitas por meio dos canais da Ouvidoria-Geral da União, contribuindo para ampliar o alcance das ações de fiscalização.
A operação segue em curso, com a promessa de mais rigor nos controles e punições mais duras às empresas que tentarem burlar as normas. O azeite, alimento nobre e símbolo de saúde e tradição, exige respeito em toda a cadeia — do produtor ao consumidor. Afinal, sua reputação é construída gota a gota, e qualquer desvio, por menor que pareça, contamina não apenas o produto, mas também a confiança do público.