O setor brasileiro de carnes enfrenta mais um abalo em 2025. A Marfrig, uma das maiores companhias do setor frigorífico da América Latina, suspendeu temporariamente a produção de carne bovina destinada aos Estados Unidos em sua planta industrial de Várzea Grande, no Mato Grosso. A decisão foi comunicada pela própria empresa ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com a justificativa de “razões comerciais”, conforme apurou a Folha de S.Paulo.
A medida teve início em 17 de julho, poucos dias após o anúncio do governo dos EUA sobre o aumento das tarifas de importação sobre produtos brasileiros. A partir de 1º de agosto, a sobretaxa sobe de 10% para 50%, ampliando a pressão sobre frigoríficos que atuam com foco no mercado americano — atualmente o segundo maior destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China.
Uma decisão estratégica diante de incertezas tarifárias
Embora a Marfrig não tenha se pronunciado oficialmente sobre o caso, fontes ouvidas pela Folha de S.Paulo indicam que a empresa optou pela paralisação como forma de resguardar a competitividade de seus produtos. A unidade de Várzea Grande, adquirida da BRF por R$ 100 milhões em 2018, realiza o abate de cerca de 3 mil cabeças de gado por dia e está habilitada para exportar para 22 países — incluindo Estados Unidos, China e nações da Europa.
Para o economista agroindustrial Jorge Gouveia, a medida “reflete uma postura cautelosa e estratégica diante de um cenário que se tornou imprevisível com a escalada tarifária”. Ele explica que, no curto prazo, a interrupção evita prejuízos diretos, mas, se o impasse se prolongar, a empresa terá de redirecionar sua produção com agilidade para evitar ociosidade operacional.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil exportou 189,2 mil toneladas de carne bovina aos EUA em 2024, volume que correspondeu a 7,4% das vendas externas do setor e rendeu US$ 11,7 milhões. No entanto, desde a adoção da tarifa de 10%, esse fluxo já dava sinais de retração: em abril, as exportações somaram 44,2 mil toneladas; em maio, caíram para 22,5 mil; e em junho, recuaram ainda mais, para 13,4 mil toneladas.
Frigoríficos redirecionam esforços para mitigar impactos
A Marfrig não está sozinha. Outros frigoríficos localizados no Mato Grosso do Sul também anunciaram a suspensão preventiva das exportações para os Estados Unidos. De acordo com comunicado do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado (Sicadems), a medida foi adotada enquanto se aguarda uma definição mais clara que garanta “segurança e viabilidade econômica”.
Segundo o analista de comércio exterior rural André Carvalho, o impacto da medida pode ser expressivo. “Estamos falando de uma possível retração que pode gerar uma perda de até US$ 1 bilhão em receitas para o setor em 2025, caso o bloqueio tarifário se mantenha”, alerta.
Diante desse cenário adverso, as empresas têm buscado realocar parte da produção suspensa para o mercado interno e para outros países que ainda mantêm condições comerciais mais favoráveis. Trata-se, portanto, de uma resposta tática para manter a atividade produtiva, ao menos parcialmente, em operação.