Resumo
Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, foi premiada com o World Food Prize, conhecido como o “Nobel da Agricultura”, em cerimônia nos Estados Unidos.
A cientista lidera pesquisas há mais de 40 anos, com destaque para o uso de bioinsumos que substituem fertilizantes químicos e reduzem emissões.
Sua tecnologia de coinoculação na soja gerou US$ 25 bilhões em economia e evitou a emissão de 230 milhões de toneladas de CO₂ em 2024.
Mariangela acumula mais de 500 publicações e 200 orientações, sendo uma das cientistas brasileiras mais influentes do mundo, segundo Stanford.
O prêmio consagra sua contribuição à sustentabilidade agrícola e fortalece o papel da ciência brasileira na produção de alimentos mais limpa e eficiente.
Na noite desta quinta-feira (23), no majestoso Capitólio de Iowa, nos Estados Unidos, uma cientista brasileira será o centro das atenções em uma cerimônia que ecoa por todo o setor agropecuário global. A pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, receberá o World Food Prize, a mais importante distinção internacional voltada ao avanço da produção de alimentos — e que, por sua relevância, é informalmente conhecida como o “Nobel da Agricultura”.
O prêmio consagra décadas de dedicação à ciência do solo e à substituição de insumos químicos por soluções biológicas de alta eficiência. Com mais de 40 anos de atuação, Mariangela construiu um legado que não apenas transformou práticas agrícolas no Brasil, como também influenciou sistemas produtivos em diversos países do mundo.
“Recebo este prêmio com enorme emoção, mas ele também pertence a todos que contribuíram com essa trajetória: colegas, alunos e à própria Embrapa, que acreditou por quatro décadas nas pesquisas com biológicos”, declarou a cientista. Em sua fala, ela reforça um dado marcante: o Brasil é hoje o líder mundial no uso de bioinsumos na agricultura.
Um novo capítulo para a ciência do solo
Doutora em Ciência do Solo e pesquisadora da Embrapa desde 1982, Mariangela Hungria consolidou-se como uma das maiores referências internacionais no uso de microrganismos para promover produtividade com sustentabilidade. Entre suas mais de 30 tecnologias desenvolvidas, destaca-se a coinoculação da soja, que combina bactérias fixadoras de nitrogênio com microrganismos promotores de crescimento vegetal. Essa combinação vem sendo aplicada em aproximadamente 35% da área cultivada com soja no Brasil, gerando efeitos impressionantes.
Somente em 2024, a adoção dessa técnica proporcionou uma economia estimada em US$ 25 bilhões, além de evitar a emissão de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalente. Essa economia em escala bilionária revela o quanto as soluções de base biológica podem ser estratégicas para aliar produtividade à mitigação de impactos ambientais.
Entretanto, sua contribuição não se limita à soja. A pesquisadora lidera estudos aplicados também a culturas como milho, trigo, feijão e até pastagens, ampliando o alcance dos insumos biológicos e reduzindo o uso de fertilizantes convencionais — muitas vezes de alto custo e impacto ecológico.
Um legado reconhecido globalmente
Nascida em São Paulo em 1958, Mariangela construiu uma trajetória marcada pela excelência acadêmica e pela dedicação à ciência pública. Seu currículo impressiona: mais de 500 publicações científicas, mais de 200 alunos orientados e participações ativas em entidades como a Academia Brasileira de Ciências e a Academia Mundial de Ciências.
Desde 2020, integra o seleto grupo dos 100 mil cientistas mais influentes do mundo, segundo ranking da Universidade de Stanford (EUA). E em 2025, foi reconhecida com o Prêmio Mulheres e Ciência, do CNPq, além de ocupar o topo do ranking brasileiro em Fitotecnia e Microbiologia, de acordo com a plataforma Research.com.
Para ela, a chave do reconhecimento está na coerência de sua atuação científica com os valores da sustentabilidade: “Sempre acreditei na vida no solo e em uma agricultura altamente produtiva que não prejudica o meio ambiente. Essa coerência me trouxe credibilidade científica e fortes conexões com o setor agrícola”.
O prêmio e seu simbolismo
O World Food Prize foi instituído em 1986 por Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz e responsável pela chamada Revolução Verde. A honraria reconhece profissionais que promovem o avanço da segurança alimentar, da qualidade nutricional e da sustentabilidade no mundo. A cerimônia de entrega do prêmio acontece anualmente em Des Moines, no estado de Iowa, reunindo lideranças científicas, empresariais e governamentais do setor agroalimentar global.
Ao receber o WFP, Mariangela Hungria entra para um seleto grupo de brasileiros laureados. Antes dela, o prêmio foi concedido aos agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli, em 2006, e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2011, pelos esforços no combate à fome.



