Resumo
- Seminário promovido pelo Ibama em Igarapé-Miri (PA) discutiu os impactos ambientais e econômicos provocados pela invasão do mexilhão-dourado nos rios da região.
- A espécie asiática ameaça a biodiversidade aquática, prejudica a pesca artesanal e altera o equilíbrio ecológico ao competir com moluscos nativos e modificar a vegetação submersa.
- Especialistas apresentaram plano-piloto para controle da espécie no rio Anapu e colheram relatos de ribeirinhos afetados diretamente pela invasão do molusco.
- O mexilhão-dourado possui alta capacidade de reprodução e dispersão, suportando poluição, variações de oxigênio e ausência de predadores naturais no Brasil.
- O evento buscou integrar saberes técnicos e locais para fortalecer o combate à espécie invasora e preservar a economia e o ecossistema das comunidades ribeirinhas.
A presença do mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) em águas brasileiras não é apenas uma curiosidade biológica — é um desafio crescente que afeta diretamente o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, as atividades econômicas das comunidades ribeirinhas e a biodiversidade nativa.
Foi com esse pano de fundo que o município de Igarapé-Miri, no Pará, sediou um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O objetivo foi unir esforços e conhecimento técnico para enfrentar os impactos causados por essa espécie invasora originária da Ásia.
Discussão técnica e troca de experiências com a comunidade
A iniciativa teve o apoio da Prefeitura Municipal de Igarapé-Miri e reuniu autoridades ambientais, representantes da Colônia de Pescadores Z-15, lideranças locais e grupos de proteção ambiental. Mais do que um espaço de palestras, o encontro funcionou como uma verdadeira ponte entre o conhecimento técnico-científico e os saberes locais dos moradores afetados pela presença do molusco. Um dos focos principais foi apresentar um plano-piloto de remoção do mexilhão-dourado no rio Anapu, além de ouvir diretamente os relatos das famílias ribeirinhas do Baixo Anapu, que convivem com os prejuízos da invasão há anos.
Além das discussões sobre o manejo direto da espécie, o seminário também abriu espaço para explicar o ciclo de vida do molusco, sua forma de reprodução e os fatores que contribuem para sua disseminação em larga escala. Essa abordagem buscou não apenas informar a população, mas também envolver as comunidades no processo de identificação de soluções, incentivando a vigilância ambiental e a proteção de espécies nativas ameaçadas pela competição com o invasor.
Uma ameaça silenciosa que cresce nas águas brasileiras
O Limnoperna fortunei é uma espécie que se destaca por sua capacidade de adaptação e reprodução acelerada. A cada ciclo reprodutivo, os machos e fêmeas liberam gametas diretamente na água, e as larvas, com características planctônicas, podem ser transportadas facilmente pelas correntes. Em determinadas épocas do ano, a densidade larval pode ultrapassar os 30 mil indivíduos por metro cúbico — um número que revela o tamanho do desafio ambiental.
Sua presença modifica o ecossistema aquático de forma silenciosa, mas profunda. O mexilhão-dourado se alimenta por filtração, consumindo grandes volumes de fitoplâncton, o que desequilibra a cadeia alimentar e pode desencadear florescimentos de cianobactérias tóxicas, prejudicando ainda mais a qualidade da água. Esse comportamento o transforma, ainda, em um vetor potencial de toxinas em ambientes já vulneráveis.
Impactos na pesca, biodiversidade e infraestrutura
As consequências da proliferação do molusco asiático se estendem além da biodiversidade. A pesca artesanal, base econômica de diversas comunidades amazônicas, sofre com a redução das espécies nativas, que perdem espaço para o invasor. A vegetação aquática, essencial para o ciclo de vida de peixes e outros moluscos, também é prejudicada.
Além disso, o mexilhão-dourado causa entupimento de tubulações, filtros de usinas hidrelétricas, sistemas de irrigação e redes de abastecimento de água, impondo altos custos de manutenção. Sua tolerância a diferentes níveis de poluição, temperaturas e baixa concentração de oxigênio o torna um inimigo difícil de combater, especialmente pela ausência de predadores naturais no Brasil.
União de forças para frear a dispersão da espécie
O seminário realizado em Igarapé-Miri é parte de um esforço mais amplo de articulação entre órgãos ambientais, pesquisadores e a sociedade civil para enfrentar o avanço do mexilhão-dourado nos rios da América do Sul. A troca de experiências entre os participantes — tanto técnicos quanto moradores da região — foi apontada como um passo essencial para pensar estratégias conjuntas de contenção.
Em um cenário de mudanças climáticas, degradação de ecossistemas e pressão sobre os recursos hídricos, combater espécies invasoras como o Limnoperna fortunei exige ações integradas, educação ambiental e monitoramento constante. O seminário reforça que proteger os rios brasileiros passa, também, por conhecer e agir diante das ameaças invisíveis que crescem em silêncio debaixo d’água.



