A cada novo alerta de desmatamento na Mata Atlântica, uma parte da memória natural do Brasil desaparece. Essa constatação ganhou contornos ainda mais urgentes com o balanço da 8ª edição da Operação Mata Atlântica em Pé, realizada entre os dias 15 e 26 de setembro no Paraná. Em apenas onze dias, a Polícia Militar do estado, por meio do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), identificou 836 hectares de floresta nativa devastados, o equivalente a mais de mil campos de futebol. Os danos resultaram em R$ 19,1 milhões em multas, um número que impressiona não apenas pela cifra, mas pelo que revela sobre a persistência da degradação ambiental.
Além das novas áreas de vegetação suprimidas, a fiscalização também concentrou esforços em regiões já embargadas em operações anteriores. Lá, as imagens de satélite expuseram a continuidade de atividades como agricultura e pecuária, desrespeitando completamente as restrições legais. Mais de 875 hectares embargados foram vistoriados, evidenciando o descaso com as determinações ambientais e a fragilidade na regeneração do bioma.
O peso do embargo desrespeitado
Ao manter a produção em áreas já punidas por crimes ambientais, infratores impedem a recomposição da vegetação nativa — o que compromete o equilíbrio de ecossistemas inteiros. Além de afetar diretamente a biodiversidade, o impacto compromete também os serviços ecossistêmicos que a floresta oferece, como o armazenamento de carbono, a proteção dos mananciais e a regulação climática. Por isso, os autos de infração aplicados nas áreas reincidentes refletem um nível elevado de gravidade e resultaram em penalidades mais severas.
“O trabalho da unidade é assegurar que esses espaços sejam protegidos e que a legislação ambiental seja cumprida de forma rigorosa”, afirmou o tenente-coronel Alvaro Gruntowski, comandante do BPMA, ao comentar sobre a importância de monitorar continuamente os territórios frágeis e reincidentes.
Uma operação com raízes no Paraná e alcance nacional
Criada originalmente no Paraná, a Operação Mata Atlântica em Pé ultrapassou as fronteiras estaduais e se consolidou, em 2025, como uma ação de nível federal. Agora em sua oitava edição, a mobilização envolve os 17 estados que ainda abrigam fragmentos remanescentes do bioma, com apoio de instituições como o Ministério Público, o Ibama, o Instituto Água e Terra (IAT) e demais órgãos de fiscalização ambiental.
A escolha do nome da operação carrega uma intenção simbólica: manter a Mata Atlântica em pé, viva, pulsante. Trata-se de um esforço coletivo, contínuo e técnico, baseado em imagens de satélite, dados cruzados e atuação coordenada em campo. Uma ação que vai além do ato de multar: busca responsabilizar, inibir e recuperar.
Multas que financiam a recuperação
Todos os valores arrecadados com as penalidades aplicadas durante a operação são revertidos ao Fundo Estadual do Meio Ambiente (Fema), administrado pelo IAT. Esses recursos podem ser utilizados para fomentar projetos de recuperação ecológica, capacitar órgãos ambientais, adquirir tecnologias de monitoramento ou ainda apoiar ações de educação ambiental em comunidades afetadas.
Ao destinar os recursos à restauração e proteção, o ciclo da operação se fecha com uma resposta prática à destruição — transformando sanção em instrumento de regeneração.
Monitoramento contínuo e o papel da sociedade
O uso de tecnologia de sensoriamento remoto tem sido uma das grandes aliadas no combate ao desmatamento no Brasil. No caso da Mata Atlântica, que sobrevive hoje em apenas 12% de sua cobertura original, a vigilância precisa ser constante e integrada. O BPMA reforça que as áreas embargadas continuarão sob fiscalização intensa, especialmente em locais onde as imagens indicam movimentação recente ou vegetação impedida de se recompor.
E a sociedade tem papel fundamental nesse processo. Denúncias anônimas sobre crimes ambientais podem ser feitas a qualquer momento pelo Disque 181, garantindo a participação cidadã na preservação de um dos biomas mais ricos — e ameaçados — do país.