A cada safra, o agronegócio brasileiro não entrega apenas alimentos e superávits comerciais. Em 2024, o setor também reafirmou seu peso como pilar fiscal do país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), somados à base do Empresômetro, o agro foi responsável por uma arrecadação histórica de R$ 930,8 bilhões, representando 24,5% de todos os tributos recolhidos no Brasil.
O montante revela uma dimensão pouco explorada do setor: a capacidade de sustentação do Estado por meio de sua produção. Para se ter uma ideia da proporção, o valor arrecadado seria suficiente para financiar mais de cinco vezes o orçamento do Bolsa Família, estipulado em R$ 169,7 bilhões neste ano. O dado integra a análise divulgada no III Fórum Agro, que reuniu estudos sobre evolução econômica, logística e arrecadação em todas as regiões do país.
Arrecadação do agro cresce acima da média nacional
Enquanto a receita total do governo federal subiu 13,6% entre 2022 e 2024, impulsionada por ajustes econômicos e recuperação de setores, o agronegócio foi além: avançou 17,8% no mesmo período, superando a média nacional. Os dados mostram que um em cada quatro reais arrecadados em tributos no país teve origem direta nas cadeias produtivas do campo.
Ao observar a estrutura do setor, o destaque vai para o segmento secundário — responsável pela transformação industrial dos produtos agropecuários —, que teve crescimento de 23,9%. O setor primário, que inclui atividades agrícolas e pecuárias, cresceu 11,8%, e o terciário (comércio e serviços ligados ao agro), 12,3%.
A análise reforça que o agro não apenas mantém a produção ativa, mas também movimenta os eixos econômicos com intensidade e alcance, consolidando sua relevância como elo fundamental na engrenagem da arrecadação nacional.
Logística rural segue em ritmo acelerado
Outro ponto central do levantamento está na emissão de Conhecimentos de Transporte Eletrônico (CT-es), que refletem o volume de mercadorias em circulação pelo país. O número de CT-es saltou de 1,73 bilhão para 2,18 bilhões entre 2022 e 2024, alta de 25,6%. O agronegócio acompanhou essa expansão com um total de 222,8 milhões de CT-es emitidos apenas em 2024, avanço de 20,6% no período.
Esse crescimento logístico é um espelho do aumento da produção e da intensidade das exportações. Entretanto, mesmo com o avanço em volume absoluto, a participação relativa do agro no total de transportes caiu levemente, de 10,7% para 10,2%, indicando que outros setores da economia também estão exigindo mais da malha logística nacional.
A exigência por rotas eficientes, terminais multimodais e investimentos estruturantes é cada vez maior, e o agro segue como um dos grandes motores dessa engrenagem. A complexidade das rotas rurais e a dependência de escoamento de longas distâncias continuam a exigir planejamento logístico constante.
Fretes, diesel e a elasticidade do campo
No comparativo entre os setores econômicos, o agronegócio mantém fretes mais caros, sobretudo por conta da distância entre polos de produção e os portos de escoamento. Em 2022, o valor médio por CT-e do agro era de R$ 566,21, subindo para R$ 619,30 em 2023. Em 2024, houve recuo para R$ 567,39, acompanhando a queda no preço do diesel.
No entanto, a retração menor do que a média nacional revela uma menor sensibilidade do agro às variações do combustível, já que o sistema logístico rural depende de rotas extensas, mais difíceis de otimizar no curto prazo. Enquanto os fretes urbanos e intermunicipais reagem mais rapidamente aos custos operacionais, o transporte do campo exige planejamento de longo prazo e maior robustez.
Muito além da produção: o agro como esteio fiscal
Mais do que estatísticas sobre soja, carne ou milho, os dados reforçam uma verdade silenciosa: o agronegócio sustenta boa parte das finanças públicas brasileiras. Os R$ 931 bilhões recolhidos em tributos superam não apenas programas sociais, mas também o somatório dos orçamentos de ministérios centrais, como Educação e Saúde.
Esse impacto não se limita à esfera federal. A geração de empregos formais, o crescimento da infraestrutura de transporte e a interiorização da renda posicionam o agro como vetor estratégico de desenvolvimento regional. O setor que antes era visto apenas como celeiro produtivo agora assume, com números e argumentos sólidos, seu lugar como coluna vertebral da arrecadação nacional.



