Resumo
• O Brasil consolida sua posição de liderança na transição energética ao apostar em bioenergia com base na cana-de-açúcar, etanol, biomassa e biogás.
• Tecnologias de segunda geração ampliam o potencial do setor ao transformar resíduos da cana em novos biocombustíveis, reforçando a economia circular e reduzindo emissões.
• O Centro de Excelência em Cana-de-Açúcar e Bioenergia, em construção em Ribeirão Preto (SP), será referência em pesquisa, inovação e formação voltada à matriz energética limpa.
• A localização estratégica do centro favorece a sinergia entre universidades, startups, indústrias e produtores, acelerando soluções aplicáveis ao campo e ao mercado.
• Com recursos naturais abundantes e expertise técnica, o Brasil desponta como exportador de tecnologia e modelo global de energia renovável e sustentável.
Num mundo cada vez mais pressionado a encontrar alternativas sustentáveis para os combustíveis fósseis, o Brasil se destaca por cultivar, literalmente, parte da solução. A cana-de-açúcar, velha conhecida do agronegócio nacional, volta ao centro do debate global com um papel renovado: ser protagonista de uma matriz energética mais limpa, diversificada e resiliente. Muito além do etanol que abastece veículos desde os anos 1970, o setor sucroenergético se reinventa por meio de inovações tecnológicas, novos biocombustíveis e sistemas inteligentes que integram agricultura, energia e sustentabilidade.
Segundo o Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas, cerca de 29% da energia ofertada atualmente no Brasil provém de fontes agroenergéticas como etanol, biomassa e biogás. Esse número, além de expressivo, revela uma mudança estrutural: a bioenergia, antes vista como alternativa complementar, ganha papel de base na transição energética brasileira. O país, que já é potência agroalimentar, dá passos firmes para consolidar-se também como potência bioenergética — e esse movimento ganha força com a criação do Centro de Excelência em Cana-de-Açúcar e Bioenergia, em construção em Ribeirão Preto (SP).
Cana, tecnologia e circularidade: a nova face da energia limpa
A cana-de-açúcar não é apenas matéria-prima agrícola: ela é símbolo de um modelo energético em constante evolução. O etanol, que já evitou a emissão de milhões de toneladas de CO₂ ao longo das últimas décadas, ganha novos contornos com o desenvolvimento de tecnologias de segunda geração. Hoje, resíduos da própria planta — como bagaço e palha — são reaproveitados para a produção adicional de biocombustível, aumentando a eficiência sem expandir áreas de cultivo.
Essa lógica se estende à biomassa e ao biogás, que aproveitam subprodutos da lavoura e resíduos orgânicos para gerar energia elétrica e térmica. O resultado é um ciclo virtuoso de economia circular, em que o campo deixa de ser apenas produtor de alimentos para tornar-se gerador de energia renovável, renda e empregos. Trata-se de um caminho estratégico tanto para o desenvolvimento rural quanto para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa.
Ribeirão Preto: berço da bioenergia e do conhecimento aplicado
A escolha da cidade de Ribeirão Preto para sediar o novo centro de excelência não é aleatória. A região abriga um dos maiores cinturões canavieiros do mundo, com concentração de usinas, universidades, laboratórios e empresas do setor agroindustrial. É, por assim dizer, um laboratório a céu aberto da bioeconomia brasileira. Ali, a união entre ciência e prática agrícola cria um terreno fértil para a inovação com propósito.
O centro — que deve entrar em funcionamento no segundo semestre de 2026 — terá como missão acelerar pesquisas voltadas ao aperfeiçoamento genético da cana, desenvolver novos biocombustíveis e estimular a criação de bioprodutos de alto valor agregado. Laboratórios modernos, programas de capacitação técnica e científica, parcerias com startups e indústrias formam a espinha dorsal de um projeto que visa não apenas formar profissionais, mas construir soluções reais para o presente e o futuro energético do Brasil.
Um modelo tropical para a economia de baixo carbono
A contribuição da bioenergia brasileira não se limita ao abastecimento interno. Em um cenário global de descarbonização e crise climática, o país passa a ser referência na exportação de tecnologia limpa, de biocombustíveis competitivos e de modelos de produção alinhados aos princípios da sustentabilidade. A força agrícola, somada à biodiversidade e ao domínio técnico acumulado nas últimas décadas, permite ao Brasil oferecer soluções replicáveis para outras regiões tropicais do planeta.
Além disso, o fortalecimento do setor bioenergético reduz a dependência nacional de fontes fósseis e reforça a segurança energética em momentos de instabilidade internacional. Com planejamento, investimentos consistentes e políticas públicas articuladas, a matriz energética brasileira tende a se tornar uma das mais renováveis e resilientes do mundo — e grande parte dessa transformação tem como base uma planta milenar, adaptada aos trópicos e agora impulsionada por ciência de ponta.
O futuro sustentável começa com raízes no campo
O Centro de Excelência em Cana-de-Açúcar e Bioenergia representa mais do que uma nova etapa para o setor sucroenergético: ele simboliza a continuidade de uma trajetória iniciada há mais de meio século, agora impulsionada por tecnologia, conhecimento e compromisso ambiental. Se a cana já foi motor da industrialização nacional, hoje ela se transforma em vetor da transição energética que o planeta exige.



