No sertão sergipano, a fome não é uma lembrança distante — para muitas famílias, ela ainda faz parte da memória recente. Foi o caso de Neuzide da Paz, de 53 anos, moradora de um assentamento rural em Frei Paulo, que enfrentou longos períodos sem ter o que pôr à mesa.
Mãe de doze filhos, ela fala com emoção sobre a transformação proporcionada por uma política pública essencial: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “Hoje, graças ao PAA, não vai ter mais fome na minha casa. Só vai ter todo mundo sorrindo e de barriga cheia”, afirma com alívio e esperança.
Uma ponte entre quem planta e quem precisa
Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o PAA foi retomado com força em 2023 e opera em Sergipe em parceria com a Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e Cidadania (Seasic). A proposta é simples, mas poderosa: o governo compra alimentos diretamente de agricultores familiares e os distribui para a rede socioassistencial, escolas públicas e outros equipamentos que atendem populações vulneráveis.
O resultado é um ciclo virtuoso que beneficia tanto quem planta quanto quem recebe. “É um trabalho maravilhoso, que tira os agricultores da dependência de atravessadores e garante alimentos de qualidade, sem agrotóxicos, para a população e entidades socioassistenciais”, explica Luiz Campos, coordenador estadual do programa.
A ideia de produzir alimentos com destino certo tem efeito direto na vida de quem cultiva a terra. Além da segurança financeira, há um sentimento de propósito e pertencimento. “É prazeroso a gente plantar e saber que aquele alimento que foi cultivado, colhido pelas mãos da gente, está ajudando pessoas em vulnerabilidade”, diz com orgulho a agricultora Alaudice Santos, de 55 anos, que assumiu sozinha o cultivo da propriedade após seu marido perder a visão.
Alimentar é um ato de transformação social
A atuação do PAA vai além da simples compra de alimentos — trata-se de uma ação que redefine trajetórias. Desde seu relançamento, mais de duas mil toneladas de alimentos foram entregues em Sergipe, impactando diretamente cerca de 30 mil famílias em 60 municípios. Ao mesmo tempo, mais de 700 pequenos produtores passaram a contar com uma renda fixa e a segurança de escoar sua produção.
As entregas, porém, vão além da logística. Luiz Campos relata que a recompensa mais verdadeira está no retorno das comunidades: “Quando a gente entrega a cesta de alimento para as pessoas, a gente vê pessoas chorando, agradecendo, me abraçando. Quando a gente vê o produto chegando para quem tem fome, a gente vê todo o esforço que a gente fez valer a pena.”
Esperança plantada no solo
Na pequena Cristinápolis, outro agricultor também viu sua vida mudar com o apoio do programa. Evandro Souza, de 43 anos, abandonou a rotina de mototaxista e pedreiro para investir no campo. Hoje cultiva milho, feijão, abóbora e melancia em seu lote conquistado via assentamento. “Além do governo comprar nosso alimento, estamos matando a fome de quem não tem condições. Para quem não tinha nada, graças a Deus, hoje tenho tudo”, conta, com olhos voltados para um futuro mais próspero.
A regularidade das compras e a valorização do que é produzido localmente oferecem aos agricultores algo que vai além do sustento: trazem dignidade, orgulho e a chance real de projetar um futuro diferente. “É através desse programa que eu tiro o sustento da minha família. Eu planto com a certeza para onde vou vender”, afirma Alaudice, que resume o espírito do PAA em uma única frase: “Daqui para frente eu desejo ver o Brasil sem fome. Desejo ver fartura na mesa de todas as pessoas.”