Reconhecido há anos como um polo de inovação ambiental, o Paraná tem buscado transformar políticas sustentáveis em ações concretas capazes de inspirar o restante do país. Entre essas iniciativas, destaca-se o programa desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), criado para validar e verificar inventários e projetos de carbono que medem emissões, reduções e remoções de gases de efeito estufa. Previsto no Plano de Governo 2023–2026, o programa foi lançado há dois anos e, desde então, já percorreu florestas e propriedades rurais de municípios do Sul, Norte e Centro-Oeste, alcançando diferentes biomas e realidades produtivas.
Ao certificar metodologias utilizadas por empresas e consultorias especializadas, o sistema garante confiabilidade para projetos que buscam reduzir emissões, além de aproximar o Paraná da agenda internacional em discussão na COP 30, realizada em Belém (PA). A iniciativa surge como resposta prática à necessidade global de mensurar carbono com precisão, algo que se tornou indispensável para quem pretende participar do mercado voluntário ou regulado de créditos.
O impacto da validação em propriedades rurais
Em 2025, o Tecpar emitiu sua primeira declaração de validação de um projeto de carbono voltado ao agronegócio. A certificação foi concedida à Fazenda Pau Furado, em Teixeira Soares, propriedade já reconhecida por adotar boas práticas ambientais e dona do selo internacional RTRS, que atesta produção sustentável de soja. A fazenda, que negocia créditos de soja e milho sustentável com o mercado europeu, buscou a validação como uma etapa complementar para reforçar a credibilidade de suas ações de manejo.
Fabiano Gomes, um dos proprietários, afirma que a certificação representa mais do que retorno financeiro. Para ele, trata-se de consolidar um posicionamento ambiental que, segundo relata, deveria ser adotado por toda a cadeia produtiva. “Acredito que todos os agricultores deveriam seguir este exemplo. Agora estamos esperando as negociações desses créditos, já temos muitas empresas de fora do Brasil interessadas na compra, e são volumes muito altos, que agregam mesmo”, diz. Ele destaca ainda a eficiência da auditoria conduzida pelo Tecpar, que incluiu visitas técnicas e análise detalhada da documentação.
A fazenda conheceu o programa por meio da Biomma Carbon, empresa paranaense e pioneira no desenvolvimento de projetos de baixo carbono específicos para o agronegócio. O projeto aplicado na propriedade adotou práticas agrícolas sustentáveis e regenerativas como forma de reduzir e remover emissões, estratégia que vem ganhando força no cenário internacional. Segundo os idealizadores, “essas certificações cooperam para a redução das emissões de gases, e é de extrema importância que mais agricultores pensem dessa forma”, reforçando a necessidade de unir produção e responsabilidade climática.
Metodologias avaliadas e confiabilidade técnica
Além de atender propriedades que desenvolvem seus próprios métodos de quantificação de carbono, o programa do Tecpar também valida metodologias formuladas por consultorias especializadas. Um exemplo é o Instituto Neo Carbon, sediado em Joinville (SC), que atua com o registro de projetos de carbono e pagamento por serviços ambientais. Em 2023, um piloto aplicado na cidade de Alto Araguaia (MT) teve sua metodologia avaliada e validada pelo Tecpar.
A presidente do instituto, Patrícia de Luca Lima Greff, explica que buscava uma instituição reconhecida no setor para realizar auditorias independentes e encontrou no Tecpar a solidez necessária. “O Tecpar abriu suas portas para fazer as auditorias dos projetos elaborados pelas metodologias da Neo Carbon e isso foi ótimo para ambas as empresas. Nós desenvolvemos as metodologias, validamos e verificamos cada projeto”, afirma. Para ela, o principal ganho foi a ampliação da credibilidade no mercado nacional.
O processo de validação segue normas como a NBR ISO 14065:2015, que estabelece requisitos para organismos que verificam e validam inventários e projetos de GEE. A avaliação inclui três etapas complementares: análise documental, visita técnica e recálculo dos dados, garantindo que a quantificação seja fiel à metodologia prevista.
Tecnologia aplicada à agenda climática
Para Eduardo Marafon, diretor-presidente do Tecpar, o avanço do programa tem contribuído para consolidar o Paraná como referência em soluções que unem desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Ele destaca que a iniciativa complementa as políticas públicas implementadas pelo governo estadual, ampliando a adoção de práticas de baixo carbono. “Por meio deste programa, o Tecpar se posiciona como um indutor de tecnologias sustentáveis, cumprindo também o seu papel social”, afirma.
Ao fortalecer sistemas de verificação, o estado colabora com a integridade do mercado de carbono – mecanismo no qual projetos voltados à conservação florestal, regeneração ambiental ou manejo agrícola responsável geram créditos equivalentes a uma tonelada de carbono removida ou evitada na atmosfera. Esses créditos são negociados com empresas que buscam compensar suas emissões, criando um ciclo capaz de estimular práticas mais limpas.
Assim, o modelo paranaense se estabelece como um exemplo de governança climática e de capacidade técnica, com potencial de inspirar novas políticas em outros estados e impulsionar a transição ambiental em escala nacional.



