Resumo
• O Paraná reduziu em 93,7% o desmatamento entre 2021 e 2024, tornando-se referência nacional em preservação ambiental.
• A queda ocorreu graças ao uso de inteligência geográfica, imagens de satélite e fiscalização integrada em campo.
• Em 2024, 71% dos municípios não registraram desmatamento ilegal e 75% ampliaram suas áreas de vegetação nativa.
• Novas tecnologias e equipes ampliadas permitiram mais autuações, respostas rápidas e fortalecimento do Fundo Estadual do Meio Ambiente.
• Políticas públicas como o ICMS Ecológico impulsionam a conservação, garantindo repasses e incentivos à proteção territorial.
A trajetória recente do Paraná no combate ao desmatamento se tornou um caso emblemático no Brasil, não apenas pela expressiva redução nas áreas degradadas, mas pelo modo como tecnologia, gestão pública e fiscalização se integraram em um único sistema de proteção.
Ao longo de três anos, o estado conseguiu diminuir de forma consistente a supressão ilegal de vegetação nativa, passando de 6.887 hectares desmatados em 2021 para apenas 432 hectares em 2024. Esse recuo de 93,7%, apontado pelo Relatório Anual do Desmatamento (RAD) do MapBiomas, revela uma mudança estrutural na forma como o território é monitorado e como as respostas são organizadas.
Inteligência geográfica transforma a fiscalização ambiental
O ponto de virada dessa evolução está diretamente ligado ao uso de inteligência geográfica, que permitiu ampliar a capacidade de observação do Instituto Água e Terra (IAT) sobre áreas vulneráveis. Imagens de satélites históricos, plataformas de monitoramento em tempo quase real e sistemas capazes de emitir alertas diários foram incorporados ao trabalho técnico, garantindo rapidez na identificação de irregularidades e precisão na tomada de decisões.
Além disso, a dinâmica em campo mudou profundamente. Os escritórios regionais e o Grupo de Operações Ambientais (GOA) intensificaram ações presenciais, enquanto autuações remotas passaram a acelerar o início das providências legais. Com isso, o estado reduziu significativamente o intervalo entre a detecção do foco e a chegada da fiscalização, aumentando também o número de processos e multas aplicadas.
Resultados consolidados na preservação da Mata Atlântica
Esse conjunto de ferramentas e estratégias se reflete especialmente na proteção da Mata Atlântica. Nos dois últimos anos avaliados, o Paraná registrou uma queda de 64,9% na supressão ilegal do bioma, recuando de 1.230 hectares para 432 hectares. O resultado posicionou o estado entre os melhores do país, atrás apenas de Goiás e Distrito Federal.
O impacto positivo não se restringiu às estatísticas isoladas. Em 2024, 71% dos municípios paranaenses — um total de 284 cidades — não apresentaram nenhum alerta de supressão de vegetação nativa. E, além disso, 75% das cidades registraram saldo positivo de floresta nativa, ampliando suas áreas verdes. Apenas seis estados brasileiros apresentaram essa evolução de forma significativa, e o Paraná figura entre eles.
Desafios persistem, mas as bases do sistema estão consolidadas
Apesar dos avanços, as dificuldades ainda são notáveis, especialmente na identificação dos infratores. Questões como sobreposições de imóveis no Sicar, conflitos fundiários e propriedades sem documentação regular tornam mais complexa a responsabilização direta pelos danos ambientais. Mesmo assim, o foco agora está em manter a fiscalização permanente e monitorar as áreas já autuadas, garantindo que de fato estejam em processo de regeneração.
Tecnologias que mudaram o cenário da conservação ambiental
Uma das forças da estratégia paranaense está na ampla rede de plataformas tecnológicas utilizadas. A Rede MAIS, ferramenta incorporada ao estado em 2023 em parceria com a Polícia Federal, oferece imagens em alta resolução que permitem monitoramento contínuo do território.
O Prodes Brasil, inicialmente voltado à Amazônia, hoje abrange outros biomas, acompanhando a evolução histórica do corte raso por meio de séries temporais de satélite.
E o MapBiomas, com sua combinação entre inteligência artificial, computação em nuvem e vastas bases de dados, se tornou indispensável para identificar alterações no solo — agora com sensibilidade para detectar desmatamentos superiores a apenas 0,3 hectare.
Essa convergência tecnológica não apenas ampliou o alcance da fiscalização, como otimizou custos, reduziu a necessidade de deslocamentos constantes e aumentou a segurança técnica dos profissionais envolvidos.
Gestão estruturada amplia a presença fiscal no território
O avanço tecnológico exigiu uma resposta igualmente robusta na gestão pública. Desde 2021, o IAT incorporou mais de 500 novos servidores e intensificou operações integradas com o Batalhão de Polícia Ambiental – Força Verde. Essa expansão resultou em maior presença nas áreas sensíveis e elevação do número de Autos de Infração Ambiental.
Em 2019, o Paraná registrou 2.352 autuações, somando R$ 50 milhões em multas. Já em 2024, o número subiu para 5.408 autos, com multas que alcançaram R$ 137 milhões. Só entre janeiro e outubro deste ano, foram 3.422 autos por crimes contra a flora. Todo o valor arrecadado fortalece o Fundo Estadual do Meio Ambiente, responsável por financiar projetos destinados à preservação e recuperação ambiental.
Políticas públicas garantem preservação e incentivos
Além da fiscalização, o estado consolidou políticas contínuas de incentivo à conservação. O ICMS Ecológico por Biodiversidade se tornou uma das ferramentas mais relevantes, ao redistribuir parte do imposto aos municípios que abrigam Unidades de Conservação, mananciais ou áreas especiais.
Em 2024, 236 dos 399 municípios paranaenses receberam recursos por meio desse mecanismo, somando R$ 317 milhões transferidos ao longo do ano. Paralelamente, programas como o Pagamento por Serviços Ambientais Municipal incentivam proprietários rurais a protegerem Reservas Particulares do Patrimônio Natural, ampliando o alcance das ações de conservação.



