O Brasil rural ganha um novo impulso com a parceria firmada entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Sebrae, que pretende aumentar em até 20% a produtividade de pequenas agroindústrias e promover a entrada desses empreendimentos em mercados de maior escala. A iniciativa foi oficializada em Brasília e deve atender inicialmente cerca de 2,5 mil agroindústrias de pequeno porte, com foco na produção de alimentos de origem animal, como queijos, embutidos, ovos e carnes artesanais.
Segundo Décio Lima, presidente do Sebrae, essa ação tem papel crucial para corrigir distorções históricas do setor. “O mercado nunca foi gentil com os pequenos. Precisamos de políticas públicas que ofereçam proteção e viabilidade para esse segmento, que é responsável por uma parte essencial da nossa segurança alimentar e da economia local”, afirma. A proposta, segundo ele, é construir caminhos para que pequenas produções artesanais possam chegar a prateleiras de todo o país, mantendo sua identidade, mas com ganhos em competitividade e formalização.
Sistema de inspeção e selo nacional abrem novas possibilidades de mercado
Um dos pilares da nova política é a ampliação do acesso ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-POA). Atualmente, o sistema reconhece apenas 1.061 estabelecimentos com registro nacional, de um total de 3.526 que operam com produtos de origem animal. A meta é incluir centenas de novos empreendimentos formais por meio da atuação nos serviços de inspeção municipais, especialmente nos mais de 800 consórcios intermunicipais espalhados pelo Brasil.
“É um passo determinante para que o produtor queijeiro ou o dono de uma pequena granja deixe de depender apenas de mercados locais. O Sisbi é uma chancela de qualidade, e com ele, o produtor pode vender para todo o Brasil”, ressalta o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Para ele, a união com o Sebrae também representa uma oportunidade de tecnificação e qualificação, permitindo que os pequenos negócios agreguem valor ao produto final.
Selo Arte: valorização do produto artesanal e da identidade regional
Outro destaque da parceria é o fortalecimento do Selo Arte, criado para identificar produtos artesanais de origem animal com padrão de qualidade reconhecido. Com mais de 2 mil registros ativos, o selo tem se mostrado um importante aliado da economia criativa rural, especialmente em estados onde há forte tradição na produção de alimentos típicos, como queijos de leite cru, linguiças coloniais e doces caseiros.
A engenheira de alimentos Carla Bento, consultora especializada em regulamentação sanitária, vê a ampliação do selo como essencial para o futuro dos pequenos negócios. “Com o Selo Arte, conseguimos equilibrar a exigência sanitária com a valorização do saber tradicional. Isso é fundamental para que o Brasil preserve suas raízes alimentares e, ao mesmo tempo, avance no processo de profissionalização rural”, afirma.
Além do Selo Arte, a parceria ainda incorpora iniciativas de qualificação técnica, como o Programa Mais Leite Saudável e o Plano de Qualificação de Fornecedores de Leite, voltados à melhoria da cadeia produtiva. Também estão previstas ações de valorização das Indicações Geográficas (IGs), que já somam 139 reconhecimentos no país e reforçam a conexão entre produto, território e cultura local.
Produtividade, escala e inclusão no mercado nacional
O objetivo maior do acordo entre Mapa e Sebrae é transformar a lógica da comercialização no campo, garantindo que produtores de menor porte possam competir em igualdade com grandes marcas. Para isso, será essencial oferecer suporte técnico, reduzir a informalidade e facilitar o acesso ao mercado nacional de forma legal e estruturada.
A bióloga e extensionista Érica França, que atua com agroindústrias no interior do Paraná, destaca que a formalização e a certificação são os maiores gargalos enfrentados por pequenos negócios. “Muitos desses empreendedores produzem com excelência, mas não conseguem vender além do próprio município por falta de adequação sanitária. Essa parceria pode mudar esse cenário e abrir um novo horizonte para o agro artesanal brasileiro”, conclui.