Resumo
• A castanha de caju de Serra do Mel recebeu Indicação Geográfica, destacando o município no cenário nacional pela tradição e qualidade do produto.
• O território potiguar consolidou sua vocação para a cajucultura, com 13 mil hectares cultivados e alta exportação que movimenta a economia local.
• A atuação do Sebrae fortalece produtores com capacitações e organização da cadeia, ampliando competitividade e acesso a mercados.
• A reativação da Coopercaju impulsiona o reposicionamento produtivo do município, com foco no escoamento e na valorização da castanha beneficiada.
• As Indicações Geográficas agregam valor, garantem origem e fortalecem identidades regionais, elevando o reconhecimento da castanha potiguar no Brasil.
A chegada da castanha de caju potiguar ao seleto mapa das Indicações Geográficas do Brasil marca um capítulo importante para o Rio Grande do Norte. Entretanto, mais do que um selo institucional, esse reconhecimento traduz décadas de dedicação de pequenos agricultores, revela a força de um território moldado pelo caju e reforça a identidade produtiva de Serra do Mel.
Assim, o registro oficial na categoria Indicação de Procedência (IP) tem sido celebrado como um marco que reposiciona o município no cenário nacional e abre novas rotas comerciais, especialmente para mercados que valorizam origem, autenticidade e qualidade comprovada.
Serra do Mel e a tradição que moldou um território produtivo
Criada nos anos 1970 a partir de um projeto pioneiro de colonização agrícola, Serra do Mel consolidou sua vocação para a cajucultura graças ao clima semiárido estável, ao solo favorável e ao modelo de agricultura familiar que encontrou ali um terreno fértil para crescer. Com cerca de 13 mil hectares cultivados, a cidade se tornou o maior produtor do estado e, ao longo dos anos, transformou o caju em símbolo cultural, econômico e turístico. Além disso, mais de 80% da produção beneficiada segue para exportação, o que reforça a importância da cadeia produtiva para a geração de renda e emprego.
A tradicional Festa do Caju, que movimenta visitantes de várias regiões, e o título de “Capital da Castanha” ilustram esse protagonismo. Porém, a IG dá um passo além: ao reconhecer oficialmente o vínculo entre território e produto, ela distingue Serra do Mel no mercado nacional e internacional, agregando valor a cada lote produzido.
O papel estratégico do Sebrae na reestruturação da cadeia produtiva
O fortalecimento da cajucultura local vem sendo impulsionado por uma atuação contínua do Sebrae no Rio Grande do Norte. Por meio de capacitações, consultorias e estímulo ao cooperativismo, a instituição tem contribuído para reorganizar a produção, aprimorar o beneficiamento e elevar o padrão de qualidade exigido pelos mercados mais competitivos. Aliás, esse suporte técnico tem atuado diretamente no resgate da autoestima produtiva dos agricultores, que encontram na profissionalização um caminho para estabilidade e expansão.
Segundo Hulda Giesbrecht, coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro da Unidade de Inovação do Sebrae, o impacto do selo vai muito além do prestígio:
“O reconhecimento da Indicação de Procedência é fruto de um esforço conjunto e representa um importante estímulo ao fortalecimento da cadeia produtiva local e regional, além de se consolidar como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento local”.
Coopercaju e o movimento de reorganização produtiva
A reativação da Cooperativa de Beneficiamento Artesanal de Castanha de Caju do Rio Grande do Norte (Coopercaju), realizada no primeiro semestre, tornou-se um ponto de virada para os produtores. Com a retomada das atividades, o município reencontra sua capacidade de atuar com mais força no mercado nacional e internacional, ampliando a oferta de produtos beneficiados e fortalecendo a identidade coletiva.
Alexsandro Dantas, presidente da cooperativa, resume o momento:
“Estamos muito otimistas. Já estamos buscando mercado para garantir o escoamento da produção”.
E acrescenta:
“O Sebrae tem sido fundamental nesse processo, nos orientando e dando total apoio”.
Esse movimento demonstra como a organização cooperada tem sido essencial para aumentar competitividade, padronizar processos e abrir portas para novos compradores.
O impacto das Indicações Geográficas na valorização de produtos brasileiros
O reconhecimento de Serra do Mel se soma às 157 Indicações Geográficas já registradas no país, das quais 117 são Indicações de Procedência e 41, Denominações de Origem. Cada uma delas carrega uma história territorial e uma relação direta entre características locais e qualidade final do produto. Por isso, o Brasil tem assistido a um crescimento significativo no valor agregado dos itens certificados, com casos em que o selo elevou o preço médio em até 300%.
Exemplos como o socol de Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, revelam o quanto a IG pode transformar economias locais. A castanha de Serra do Mel segue esse caminho, ganhando posição estratégica em mercados que buscam rastreabilidade, tradição e sustentabilidade.
O que significa a Indicação de Procedência
Concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a modalidade de Indicação de Procedência reconhece localidades que se tornaram referência na produção ou extração de bens associados a um território. Assim, o selo funciona como uma garantia de origem, reforçando identidade, reputação e confiabilidade do produto.
Diferentemente da Denominação de Origem, que exige vínculo direto entre características naturais e humanas do território e as qualidades do produto, a IP destaca o reconhecimento histórico e comercial de uma região como polo de excelência. No caso de Serra do Mel, a castanha de caju assume oficialmente esse papel.



