Em um cenário de pastos verdejantes e calor típico do Norte de Minas, um grupo de mulheres deixou a rotina diária de suas propriedades para viver algo diferente — um dia inteiro dedicado ao aprendizado, à partilha e ao fortalecimento de sua presença no agro. A proposta do Dia de Campo realizado em Montes Claros não era apenas técnica. O tema provocador, “Como conviver com o não sei?”, propôs uma reflexão profunda sobre os caminhos trilhados por produtoras que, muitas vezes, precisam assumir a frente de negócios rurais sem ter tido formação prévia ou apoio técnico suficiente.
Promovido pela Comissão Faemg Mulher, o evento reuniu cerca de 20 produtoras já atuantes na gestão agropecuária da região. A proposta foi integrar teoria e prática, com foco especial na bovinocultura — uma das atividades mais representativas do território mineiro. Durante o encontro, o aprendizado se deu em múltiplas camadas: desde palestras técnicas até relatos sinceros sobre os desafios de se firmar como mulher num setor ainda majoritariamente masculino.
A força que nasce da dúvida
Entre o calor do campo e o som das conversas animadas, surgiram histórias de vida que conectaram mais que técnicas agrícolas. Em um bate-papo aberto, três produtoras compartilharam os obstáculos enfrentados ao se lançarem no universo do agronegócio. Falas marcadas por superações emocionaram e inspiraram quem ouvia. O “não sei” deixou de ser sinônimo de limitação e passou a ser entendido como ponto de partida para uma jornada de descoberta, autonomia e aprendizado contínuo.
Ao longo do dia, as participantes puderam circular por estações temáticas práticas. Foram aprofundados temas como sanidade animal, adubação com base em coleta de solo e técnicas de manejo de pastagens. Esses conteúdos, muitas vezes considerados técnicos demais, ganharam vida nas falas de instrutores que dialogavam com a realidade do campo de forma acessível, sem abrir mão da precisão.
Tecendo redes e criando pertencimento
Além do conteúdo técnico e das histórias compartilhadas, o encontro teve um valor simbólico importante: o de reunir mulheres de diferentes trajetórias, mas com o mesmo desejo de crescer e construir um espaço mais inclusivo no campo. A iniciativa contou com o apoio do Sistema Faemg Senar e do Sindicato Rural, além da colaboração de dois grupos regionais fundamentais: o Agrosertanejas e o Filhas do Campo.
Essas redes são formadas por mulheres que se reconheceram em seus desafios e decidiram caminhar juntas, trocando experiências, compartilhando contatos e encontrando força no coletivo. Em meio à programação, o que se viu foi mais do que capacitação: foi um processo de construção de identidade, de reconhecimento e de empoderamento real.
O campo como espaço de protagonismo
Ao final do dia, o sentimento compartilhado era de transformação. O que começou como um simples encontro de produtoras se revelou um espaço potente de valorização feminina no agro. A ideia de que “não saber” pode ser o início de algo novo foi reforçada em cada troca de olhar, em cada pergunta feita sem medo, em cada história contada com coragem.



