A França, berço da tradição queijeira, foi palco de uma consagração histórica para o Brasil. No último domingo, sete queijos artesanais do Paraná conquistaram medalhas no 7º Mundial do Queijo, realizado em Tours, uma das competições mais prestigiadas do planeta. Com duas medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze, o Estado mostrou que a produção local não apenas acompanha os padrões internacionais, mas também dita tendências e surpreende paladares experientes.
Realizado a cada dois anos, o concurso reuniu quase dois mil produtos de 26 países. Do Brasil, foram cerca de 300 representantes — e os paranaenses se destacaram de maneira emblemática. O resultado reflete o amadurecimento de um setor que vem sendo impulsionado por iniciativas públicas e privadas, como o Prêmio Queijos do Paraná, articulado pelo Sistema Faep e o IDR-Paraná. Essa ação funciona como uma vitrine e plataforma de qualificação para produtores que buscam competir no cenário global.
Sabores premiados com identidade brasileira
Entre os premiados com ouro, o destaque vai para dois queijos do projeto Queijos Finos, do Biopark, em Toledo. O primeiro deles, batizado de Abaporu, remete à arte brasileira não apenas no nome, mas também na complexidade sensorial: trata-se de um queijo de massa mole com casca lavada, maturado entre 14 e 30 dias, com notas aromáticas que lembram fava tonka — uma sinfonia de baunilha, caramelo e especiarias tropicais. Já o Passionata, também feito com leite de vaca, apresenta maturação de até três meses e exibe sutis toques de maracujá, conquistando os jurados com sua ousadia aromática.

Além disso, a mesma queijaria conquistou mais duas medalhas de prata com os queijos Petit Brie Triplo Creme e Saint Marcelin, ambos com massa mole e casca florida, mostrando a versatilidade técnica dos produtores locais. Segundo o mestre queijeiro Kennidy Bortoli, a premiação europeia valida o empenho dedicado à criação de um produto verdadeiramente diferenciado. “É uma chancela que mostra que estamos no caminho certo”, resume ele.
Ainda entre os medalhistas de prata está o Morbier da Queijaria Vila Velha, em Ponta Grossa, elaborado segundo uma tradicional receita francesa. Para a produtora Liliane Zaziski Aardoon, receber esse reconhecimento em território francês é uma consagração do trabalho artesanal feito com extremo cuidado. “É uma honra para quem vive e respira queijo”, afirma.
Queijos de bronze mostram força da agroindústria artesanal
As medalhas de bronze também revelam a riqueza e a diversidade dos produtores do interior paranaense. O Maná Paraná, da Queijaria Sítio Aliança, em Santana do Itararé, surpreendeu por sua maturação longa — mais de sete meses — e pela qualidade do leite extraído da própria fazenda. O produtor Leomar Martins celebrou o feito como uma confirmação do potencial regional: “É a terceira premiação em poucos meses. Isso mostra que temos excelência”, afirmou.
Já o queijo Bel Paese, da Granja Santo Expedito, em Palotina, garantiu a segunda medalha de bronze do Estado. Produzido com leite de vacas Jersey e maturado por até um ano, ele carrega a assinatura de uma queijaria jovem, criada há menos de dois anos. Para o produtor Alcélio Bombacini, ser reconhecido em um concurso mundial valida todo o esforço recente da propriedade. “É gratificante ver nosso trabalho ser aceito por tantos paladares diferentes”, comemorou.
Um salto estratégico para o setor de laticínios no Paraná
O sucesso paranaense no Mundial do Queijo não veio por acaso. Ele é resultado direto de políticas de incentivo e capacitação implementadas nos últimos anos. O Prêmio Queijos do Paraná tem se mostrado um instrumento eficaz na identificação de talentos e no fortalecimento da cadeia produtiva, aproximando pequenos e médios produtores do mercado global.
Além do apoio técnico do IDR-Paraná e do Sistema Faep, o prêmio conta com a colaboração de instituições como o Sebrae-PR, a Fecomércio-PR e o Sindileite-PR, que atuam para fomentar a inovação, a valorização do produto local e a excelência na produção artesanal.
O secretário da Agricultura, Márcio Nunes, resume o impacto do feito: “O Paraná é um dos maiores produtores de leite do país e essa conquista mostra que temos qualidade para competir com os melhores do mundo”.