A ferrugem asiática da soja continua sendo uma das principais ameaças fitossanitárias para a agricultura brasileira, especialmente em estados de grande produção como o Rio Grande do Sul. Na safra 2024/25, a doença voltou a se manifestar precocemente em território gaúcho, com detecções logo após o fim do vazio sanitário, ainda em outubro de 2024.
No entanto, apesar da alta carga inicial de esporos, a combinação de clima seco e temperaturas extremas atuou como freio natural à disseminação do fungo.
Esporos em alta logo após o vazio sanitário
Segundo o monitoramento realizado pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA/Seapi) em parceria com a Emater/RS-Ascar, os níveis de esporos do fungo Phakopsora pachyrhizi chegaram a índices elevados nas primeiras semanas da safra. Municípios como Muitos Capões (602 esporos), Três Passos (372), Ijuí (293) e Cruz Alta (205) figuraram entre os mais afetados nesse estágio inicial.
A maior concentração de inóculo ocorreu entre outubro e novembro de 2024, com novo pico registrado em março de 2025. As condições favoráveis ao fungo, como umidade relativa elevada e chuvas pontuais, impulsionaram sua presença especialmente em regiões como o Planalto Médio (5.584 esporos), Planalto Superior – Serra do Nordeste (2.908) e Alto/Médio Vale do Uruguai (2.281).
Condições climáticas limitaram disseminação
Apesar do cenário inicial preocupante, o avanço da ferrugem asiática foi significativamente limitado pela atuação do clima. A ausência de fenômenos como El Niño e La Niña trouxe um padrão neutro à temporada, mas com forte escassez de chuvas em grande parte do estado. As ondas de calor registradas em fevereiro e março, com temperaturas ultrapassando os 41 °C, criaram um ambiente hostil para o desenvolvimento do fungo, resultando em uma propagação mais contida do que a observada na safra anterior.
As análises indicam que a menor umidade e a exposição prolongada ao calor foram determinantes para impedir a formação de novos focos e reduzir o impacto sobre a produção estadual. O comportamento climático atípico reforçou, assim, a importância de fatores ambientais no ciclo de vida do patógeno.
Monitoramento permanente em 77 lavouras gaúchas
O estudo, que também conta com apoio do Departamento de Defesa Vegetal (DDV/Seapi) e de outras instituições parceiras, integra um amplo programa de vigilância epidemiológica. Ao todo, 77 lavouras em 75 municípios representando as 11 regiões ecoclimáticas do estado são equipadas com coletores de esporos.
Os dados, atualizados semanalmente, são disponibilizados por meio de mapas on-line que auxiliam os produtores no planejamento do manejo preventivo da doença. A iniciativa tem como objetivo principal identificar as condições meteorológicas propícias ao desenvolvimento do fungo, oferecendo suporte técnico para decisões estratégicas no uso de fungicidas e no controle antecipado da ferrugem asiática.
Vazio sanitário vigente para a safra 25/26
Em paralelo ao encerramento do ciclo 24/25, o Rio Grande do Sul já iniciou o cumprimento do vazio sanitário da soja para a próxima safra. Vigente entre 3 de julho e 30 de setembro, o período proíbe a permanência de plantas vivas de soja no campo, em qualquer fase de desenvolvimento.
A medida é considerada essencial para interromper o ciclo do Phakopsora pachyrhizi, reduzindo drasticamente sua sobrevivência entre as safras e impedindo que esporos residuais encontrem hospedeiros no período de entressafra. O cumprimento rigoroso do vazio é um dos pilares para conter a pressão da doença e manter a produção em patamares sustentáveis no estado.