A cidade de São Paulo será palco, no dia 8 de outubro, de um encontro decisivo sobre os desafios e caminhos possíveis para enfrentar a crise climática em um dos biomas mais ameaçados do planeta: a Mata Atlântica. O evento, promovido pela Embrapa, encerra a série nacional Diálogos pelo Clima, uma iniciativa que vem mobilizando cientistas, representantes do governo, lideranças do setor produtivo e da sociedade civil em torno de um objetivo comum: transformar conhecimento técnico em políticas públicas eficazes.
Com sede no Cubo Itaú, na Vila Olímpia, a programação contará com palestras e mesas-redondas durante todo o dia. A proposta é integrar saberes e experiências em uma plataforma colaborativa que alinhe o Brasil às metas climáticas globais da COP30, marcada para novembro, em Belém do Pará.
Um ciclo de escuta para transformar ciência em ação
Criados como um espaço para reflexão técnica, política e institucional, os Diálogos pelo Clima se consolidaram como uma ponte entre diferentes setores que compartilham a responsabilidade de mitigar os impactos da mudança do clima sobre os biomas brasileiros. Desde maio, a iniciativa percorreu os principais ecossistemas do país, reunindo contribuições que agora serão consolidadas em um documento estratégico.
A edição paulistana tem um papel simbólico e prático: além de encerrar o circuito, foca em um bioma historicamente devastado e cuja restauração é vital para a segurança hídrica, o equilíbrio da biodiversidade e a agricultura sustentável. A Mata Atlântica, apesar de sua fragilidade, abriga mais de 70% da população brasileira e concentra áreas agrícolas fundamentais.
Segundo Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, a proposta do evento é clara: “Estamos conectando ciência de excelência, voz da sociedade e capacidade de ação das políticas públicas. Acreditamos que o diálogo é o terreno fértil de onde nascem as melhores estratégias. Por isso, criamos esse espaço para transformar evidências em ações concretas.”
Debates ampliados e compromissos em construção
A mesa de abertura contará com a própria presidente da Embrapa e com o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, atualmente embaixador da FAO para o cooperativismo e enviado especial do Brasil à COP30. Ambos reforçam a perspectiva de que o agro brasileiro pode — e deve — ser protagonista de um modelo de desenvolvimento que una produtividade e responsabilidade ambiental.
Entre os conferencistas, estarão nomes com atuação direta na formulação de políticas climáticas, como Ana Toni, diretora-executiva da COP30 e secretária nacional de Mudança do Clima, além de representantes da agroecologia, do setor privado e da comunicação pública.
Durante os painéis, será debatida a urgência de práticas regenerativas, o papel das florestas urbanas e das tecnologias agrícolas de baixo carbono, e a importância de resgatar o papel do Brasil como um articulador global no enfrentamento à crise ambiental.
Contribuições para a COP30 e o futuro dos biomas brasileiros
As discussões realizadas em São Paulo vão se somar às impressões já colhidas nas edições anteriores do circuito, realizadas em regiões-chave: Cuiabá (Cerrado), Corumbá (Pantanal), Manaus (Amazônia), Porto Alegre (Pampa e Mata Atlântica Sul) e Fortaleza (Caatinga). O material resultante será sistematizado em um relatório final que será entregue ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, com o objetivo de apoiar as negociações brasileiras no encontro internacional.
Mais do que um evento, o Diálogos pelo Clima se consolida como um processo de escuta e formulação, reconhecendo que os impactos da emergência climática não se restringem à teoria. Estão nos ciclos de seca e chuva, na perda de espécies, no avanço da urbanização e, sobretudo, nas decisões que governos, empresas e cidadãos tomam — ou deixam de tomar — todos os dias.
Na visão dos organizadores, o evento em São Paulo não encerra apenas uma jornada de debates. Ele acende uma nova etapa de compromissos e responsabilidades que serão cobrados diante do mundo em novembro, quando o Brasil receberá a COP30 com o desafio de provar que desenvolver e conservar não são verbos incompatíveis — especialmente quando a floresta começa no quintal de casa.