A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos foi profundamente abalada em agosto com a queda acentuada nas exportações de café. Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafe), o país viu suas vendas ao mercado norte-americano despencarem 46% em relação ao mesmo período de 2019.
A principal causa apontada para esse colapso é a tarifa de 25% imposta pelo governo Trump, que afetou diretamente o produto brasileiro e desencadeou uma reconfiguração no fluxo global da commodity.
América Latina avança enquanto EUA recuam
Em contraste com o recuo no mercado norte-americano, países da América Latina apresentaram um desempenho surpreendentemente positivo. A Colômbia, tradicional produtora de café, ampliou em 578% suas importações do grão brasileiro. Já o México registrou um crescimento de 90% nas compras. Esse movimento indica uma redistribuição no destino do café exportado pelo Brasil, com impacto direto nas estratégias comerciais do setor.
Apesar da instabilidade nas relações com os EUA, a Alemanha manteve sua posição de destaque como maior importadora individual. Com mais de 414 mil sacas de 60 kg adquiridas no mês, o país europeu se firmou como um porto seguro para os exportadores brasileiros, mesmo com leve retração nos volumes.
Café solúvel em queda livre e preocupação inflacionária
A turbulência comercial afetou de forma ainda mais intensa o segmento de café solúvel. De acordo com a ABICS (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel), as vendas destinadas aos Estados Unidos caíram expressivos 59,9% em agosto. A tarifa imposta não apenas encareceu o produto, como também desencorajou a permanência de contratos comerciais, afetando uma das principais linhas de exportação da indústria.
Esse cenário de retração nas vendas e reconfiguração de destinos comerciais tem levantado preocupações em nível nacional e internacional. A Organização Internacional do Café (OIC) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já sinalizaram que o aumento nas tarifas pode impactar diretamente o preço global da commodity. E o reflexo dessa alta já começa a ser sentido no Brasil, segundo Celirio Inácio, representante da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café), que afirmou que o encarecimento do café no exterior deve contribuir para pressionar a inflação interna.
Perspectivas e impasses logísticos
A tentativa de encontrar rotas alternativas para exportação, como redirecionar o produto via México ou Colômbia, foi descartada por Márcio Ferreira, presidente do Cecafe. Ele alertou que tal manobra poderia ser facilmente identificada pelas autoridades americanas e configuraria uma infração comercial. “As tarifas perturbaram o mercado e abriram a porta para movimentos especulativos”, pontuou Ferreira, ao reforçar a necessidade de estratégias transparentes e sustentáveis no setor exportador.