O café solúvel brasileiro, tradicionalmente reconhecido como um dos pilares das exportações do país, sofreu um golpe significativo em agosto de 2025. A imposição de uma tarifa de 50% sobre o produto pelo governo dos Estados Unidos gerou uma queda abrupta de 59,9% nas exportações para o mercado americano quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Foram apenas 26.460 sacas de 60 quilos embarcadas para os EUA, um volume quase simbólico frente à relevância desse destino para o setor cafeeiro nacional.
A retração também representa um recuo de 50,1% em relação a julho, acentuando o impacto imediato da medida adotada pela gestão de Donald Trump. O chamado “tarifaço” não apenas compromete os resultados do mês, mas ameaça diretamente a quebra de um novo recorde de exportações esperada para 2025, frustrando as previsões otimistas da indústria brasileira.
A resposta do setor ao aumento tarifário
Com o impacto direto nas exportações e nos planos de crescimento, entidades representativas do café brasileiro – como a ABICS, Cecafé, ABIC e BSCA – se mobilizam para dialogar com autoridades brasileiras e com parceiros comerciais norte-americanos. O objetivo é tentar restabelecer as condições de competitividade e garantir uma relação comercial mais equilibrada com o principal comprador do café solúvel do Brasil.
O setor destaca que a tarifa de 50% praticamente inviabiliza as negociações com os EUA e denuncia os efeitos do protecionismo. A situação também reacende um debate antigo sobre a falta de acordos comerciais bilaterais firmados pelo Brasil, que continua com uma presença modesta em tratados que possam abrir mercados com menores barreiras tarifárias.
Aliás, o Brasil aparece frequentemente como exportador de excelência, mas é um país que carece de acordos estratégicos com mercados-chave. E isso, segundo os representantes da indústria, compromete não apenas o café, mas todo o agronegócio exportador nacional.
Volume em queda, mas receita surpreende
Apesar do baque nas exportações para os EUA, o cenário cambial traz uma reviravolta. Entre janeiro e agosto de 2025, o Brasil exportou 2,508 milhões de sacas de café solúvel para 88 países, uma queda moderada de 3,9% em volume na comparação com o mesmo intervalo de 2024. Entretanto, a receita cambial alcançou US$ 760,8 milhões, um salto de 33%, puxado pelos preços elevados do café no mercado internacional.
Com base nesse desempenho, o setor projeta que a receita poderá ultrapassar US$ 1 bilhão em 2025, superando os US$ 950 milhões registrados em 2024 e estabelecendo um novo marco histórico — mesmo com retração no volume total exportado.
Brasil ainda lidera, mas panorama muda
Mesmo com a retração provocada pelo tarifaço, os Estados Unidos seguem como o maior destino do café solúvel brasileiro. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o país importou 443.179 sacas, o que representa uma queda de 3,7% em relação ao mesmo período de 2024, mas ainda o suficiente para manter a liderança nas compras.
Outros mercados, no entanto, começam a crescer rapidamente. A Argentina teve um aumento expressivo de 88,3%, importando 236.454 sacas, enquanto a Rússia registrou alta de 16,8%, com 188.041 sacas. Países produtores como Colômbia, Vietnã e Malásia também entram no radar, aparecendo pela primeira vez entre os 15 principais destinos das exportações brasileiras.
Essa movimentação revela um redesenho das rotas comerciais do café solúvel e uma possível descentralização do protagonismo norte-americano nesse segmento.
Mercado interno em expansão
Enquanto o mercado externo vive um momento de instabilidade, o consumo interno de café solúvel no Brasil segue em crescimento. De janeiro a agosto de 2025, os brasileiros consumiram 17.623 toneladas, o equivalente a 763.645 sacas, o que representa um aumento de 4,7% em relação ao ano anterior.
A variedade liofilizada (freeze dried) se destacou com alta de 11,3%, totalizando 2.036 toneladas, enquanto o spray dried, mais tradicional, cresceu 3,9%, chegando a 15.586 toneladas. O consumo de café solúvel importado também aumentou, com avanço de 30,7%, indicando uma abertura maior à diversidade de produtos.