As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos acabam de amargar um capítulo amargo no mercado de cafés especiais. Em agosto, o volume exportado da bebida para os norte-americanos sofreu uma queda vertiginosa de 79,5% na comparação com o mesmo mês do ano passado. O motivo: a adoção de uma tarifa de 50% sobre o produto brasileiro, medida oficializada pelo governo do ex-presidente Donald Trump.
Segundo os dados mais recentes do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), foram embarcadas pouco mais de 21 mil sacas durante o mês — uma retração tão acentuada que alterou até mesmo a tradicional liderança dos Estados Unidos como principal destino dos grãos especiais do país. Em 2025, pela primeira vez, o país caiu para a sexta posição no ranking de compradores, ficando atrás de mercados como Holanda, Alemanha, Bélgica, Itália e Suécia.
Contratos suspensos e o efeito dominó no setor
O impacto da tarifa foi imediato e profundo. Parte significativa dos contratos previamente assinados com importadores norte-americanos foi cancelada ou suspensa, justamente porque os novos custos tornam a entrada do café brasileiro no mercado dos EUA financeiramente inviável. Há registros de operações que sequer chegaram a ser embarcadas, tamanha a incerteza provocada pela mudança nas regras tarifárias.
Embora parte das exportações de agosto ainda reflita contratos antigos — que seguem sob a alíquota anterior de 10%, em vigor até abril — esse respiro tem data marcada para acabar. Os embarques que utilizam essa tarifa reduzida só serão permitidos até 5 de outubro, o que significa que, a partir daí, o novo cenário tarifário passará a atingir 100% das operações.
Reação no varejo americano e pressão sobre o governo
O encarecimento do café já começa a ser percebido também pelos consumidores dos Estados Unidos. O aumento nos preços no varejo é uma consequência direta do novo custo de importação e deve pressionar ainda mais o consumo da bebida premium. Na prática, o prejuízo não se restringe aos produtores e exportadores brasileiros, mas afeta diretamente o mercado consumidor norte-americano — historicamente o maior apreciador dos cafés especiais do Brasil.
Com esse novo obstáculo no comércio bilateral, representantes do setor pressionam o governo brasileiro a agir de forma estratégica. A expectativa é que o Itamaraty e o Ministério da Agricultura intensifiquem as negociações para tentar incluir o café na lista de exceções da ordem executiva assinada por Trump em setembro. Há sinalizações positivas: o Cecafé confirmou que o produto foi inserido em uma “lista master” de potenciais revisões.