O primeiro semestre de 2025 foi promissor para a exportação de tilápia brasileira: com crescimento expressivo de 52% no volume embarcado em relação ao mesmo período do ano anterior, o setor alimentava expectativas de liderança no fornecimento aos Estados Unidos. Contudo, a mudança repentina nas regras tarifárias por parte do governo norte-americano trouxe um novo cenário à mesa — e ele é nada otimista.
Até junho, os números impressionavam. Segundo dados da Peixe BR, associação que representa o setor aquícola brasileiro, foram enviadas ao exterior aproximadamente 8 mil toneladas de tilápia, com faturamento estimado em US$ 36 milhões. O mercado norte-americano absorveu 95% desse total, o que reforçava a confiança na expansão dos embarques e na consolidação do Brasil como principal fornecedor da espécie para os Estados Unidos.
Entretanto, essa trajetória de crescimento sofreu um baque com o anúncio de um novo tarifaço de 40% sobre os produtos brasileiros, que se somou aos 10% aplicados anteriormente. A partir de 6 de agosto, entrou em vigor a cobrança total de 50% sobre o peixe exportado — o que, na prática, inviabiliza boa parte dos contratos em andamento e coloca em xeque a continuidade das exportações no segundo semestre.
Projeções interrompidas e alerta no setor
De acordo com a Peixe BR, as exportações de tilápia podem praticamente zerar até o fim do ano. A associação destaca que a mudança no ambiente comercial altera completamente as projeções feitas no início de 2025, quando o Brasil ainda comemorava os avanços em qualidade e competitividade da cadeia aquícola.
A nova tarifa compromete não apenas o volume de vendas externas, mas também a precificação e o equilíbrio do mercado interno. Com a sobreoferta de tilápia prevista no território nacional — agora sem escoamento garantido para os EUA —, há risco de queda nos preços e desestímulo aos produtores, que já enfrentam margens apertadas e concorrência crescente.
Vietnã se fortalece e ameaça indústria nacional
Enquanto o Brasil lida com as restrições impostas pelos norte-americanos, o mercado internacional volta os olhos para o Vietnã, que, segundo a Peixe BR, deverá aumentar sua presença nos Estados Unidos com filés de tilápia a preços mais competitivos. Essa substituição traz impactos diretos ao setor produtivo brasileiro, que investiu em tecnologia, sanidade e rastreabilidade para atender padrões rigorosos de exportação.
Além da perda de espaço no exterior, a entrada de tilápia vietnamita no mercado interno — a preços mais baixos — também preocupa. A combinação entre a alta oferta nacional e a concorrência importada pode pressionar ainda mais os criadores e processadores brasileiros.
Novos mercados: a busca por alternativas sustentáveis
Diante do impasse, a Peixe BR afirma que já estuda novas rotas comerciais para os filés de tilápia, especialmente na América Latina, Europa e Oriente Médio. No entanto, a construção de relações comerciais estáveis e a superação de barreiras sanitárias em novos destinos exigem tempo, certificações e adaptações logísticas — fatores que impedem uma resposta imediata à crise imposta pela tarifa norte-americana.