As exportações brasileiras aos Estados Unidos enfrentam um novo e preocupante cenário de restrições. De acordo com um estudo conduzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 77,8% da pauta exportadora do Brasil ao mercado norte-americano já está sujeita a algum tipo de sobretaxa comercial, resultado direto da política tarifária reativada pelo ex-presidente Donald Trump. A ofensiva protecionista — intensificada em 2025 com novas rodadas de medidas — eleva o custo da entrada de produtos brasileiros e ameaça setores estratégicos da indústria nacional.
A estrutura tarifária imposta se desdobra em três camadas principais: uma tarifa base de 10% para importações em geral; uma alíquota adicional de 40% aplicada especificamente contra o Brasil desde julho; e os efeitos de dispositivos setoriais, como a Seção 232 do código comercial norte-americano, que permite sobretaxas de até 50% em setores considerados sensíveis à segurança nacional, como siderurgia, metalurgia e componentes veiculares.
Neste novo contexto, mais da metade das exportações brasileiras para os EUA passará a arcar com alíquotas máximas de 50%. Ainda segundo a CNI, quase 46% de toda a pauta está diretamente impactada por medidas exclusivas contra o Brasil, representando um forte revés à competitividade nacional. O levantamento revela que o principal alvo do tarifaço é a indústria de transformação, que foi responsável por US$ 12,3 bilhões em vendas aos EUA em 2024 — valor que corresponde a cerca de 70% do total atingido pelas medidas mais severas.
Os segmentos mais prejudicados abrangem desde vestuário, calçados e têxteis até alimentos processados, produtos químicos, máquinas, couro e autopeças. Esses setores, já pressionados por questões logísticas e cambiais, agora precisam lidar com uma escalada de barreiras tarifárias que eleva seus preços em solo americano e, consequentemente, reduz sua competitividade frente a concorrentes de países não afetados.
Ainda que a maior parte das mercadorias brasileiras tenha sido englobada pelas tarifas, 22,2% permanecem isentas, com destaque para produtos da indústria extrativa, como petróleo leve e pesado. Além disso, combustíveis automotivos e óleos combustíveis pesados — desde que sem adição de biodiesel — também estão entre as exceções.
Um ponto sensível que ainda gera expectativa é a possível isenção condicional de tarifas para produtos ligados à aviação civil. A medida, prevista na tarifa de 40% aplicada em julho, pode beneficiar até 577 categorias de bens, incluindo aviões e componentes aeronáuticos. Caso seja confirmada, essa brecha reduziria parte da carga tributária sobre o setor aeroespacial brasileiro, hoje liderado pela Embraer.
No entanto, as ameaças não cessam por aí. O governo dos EUA mantém investigações em andamento sob a Seção 232 que podem se expandir para novos setores, como aeronaves, motores, caminhões, madeira processada, minerais críticos, semicondutores e produtos farmacêuticos. A depender do resultado desses processos, a cobertura tarifária pode se ampliar ainda mais nos próximos meses.
Em resposta ao avanço das barreiras comerciais, a CNI apresentou ao governo federal uma proposta emergencial com oito medidas para mitigar os impactos. Entre elas, destacam-se a criação de uma linha de crédito com juros subsidiados via BNDES, diferimento de tributos federais, ampliação do programa Reintegra, reativação do Programa Seguro-Emprego e liberação imediata de ressarcimentos tributários.
“O levantamento mostra a dimensão do problema e a urgência de articulação entre governo e setor produtivo. Precisamos preservar nossa capacidade exportadora e responder rapidamente a essa escalada protecionista”, afirmou Ricardo Alban, presidente da CNI, em nota oficial.