A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre a tilápia brasileira acende um alerta em toda a cadeia produtiva do setor aquícola. Até então, o mercado norte-americano absorvia praticamente todo o volume exportado pelo Brasil, garantindo preços competitivos e demanda estável. Com a nova barreira, a tendência é que uma parcela significativa dessa produção retorne ao mercado interno, criando uma sobreoferta e pressionando especialmente pequenos frigoríficos e produtores independentes.
A situação preocupa, pois muitos desses produtores dependem exclusivamente da piscicultura como fonte de renda. Ao perder um dos principais destinos de exportação, a dificuldade de escoar a produção pode levar à redução de preços pagos ao produtor e até ao risco de inviabilizar operações menores.
A posição da C.Vale e o desafio logístico
A C.Vale, uma das maiores cooperativas agroindustriais do país, abate cerca de 200 mil tilápias por dia e destinava quase 30% desse volume aos Estados Unidos. Com a tarifa em vigor, esse mercado praticamente deixa de existir para o setor. A cooperativa, por possuir operações diversificadas com frango, suíno e grãos, tem maior capacidade de absorver parte do impacto. Entretanto, o cenário é mais crítico para empresas e piscicultores que concentram suas atividades apenas na criação de peixes.
Segundo dados do próprio setor, 98% da tilápia exportada pelo Brasil vai para os EUA. Com essa dependência quase total, encontrar alternativas em curto prazo é um grande desafio. O mercado europeu e o Reino Unido aparecem como potenciais destinos, mas as negociações para abertura efetiva ainda estão em andamento e dependem de acordos sanitários e comerciais que podem levar meses ou até anos.