O Brasil tem se consolidado como uma potência na produção de tilápia, ocupando atualmente o quarto lugar no ranking mundial. O peixe, além de ser cada vez mais popular nos pratos dos brasileiros, também vem sendo responsável por avanços notáveis na medicina.
No Nordeste, onde o consumo é expressivo, o Ceará se destaca como protagonista na criação da espécie e também na pesquisa científica que revelou novas aplicações terapêuticas para sua pele.
Nordeste lidera consumo e Ceará investe em genética aprimorada
O cultivo da tilápia ganhou força no semiárido nordestino a partir dos anos 1990, quando reservatórios públicos começaram a ser povoados com a espécie. O estado do Ceará, por exemplo, mantém projetos regulares de repovoamento conduzidos por instituições como o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). As águas represadas da região, antes subutilizadas, se tornaram berçários naturais para uma cadeia produtiva que une desenvolvimento econômico e segurança alimentar.
Nos primeiros anos, os resultados não eram animadores. Espécimes vindos do Sudeste apresentavam baixo rendimento e crescimento limitado. A transformação começou com a introdução da tilápia nilótica tailandesa, cujas características genéticas garantem um desenvolvimento mais robusto e adaptado às condições climáticas locais. Desde então, centros de pesquisa regionais mantêm programas específicos para preservar essa linhagem e ampliar seu potencial produtivo, inclusive com unidades dedicadas à reversão sexual de alevinos — técnica que favorece o crescimento de exemplares machos, geralmente mais valorizados pela piscicultura.
Sabor leve e alto valor nutricional atraem o consumidor
Parte do sucesso da tilápia no mercado nacional está diretamente ligada à sua versatilidade na cozinha e aos atributos nutricionais que a tornam uma opção valorizada por quem busca saúde e leveza nas refeições. Sua carne clara, de sabor suave e com baixo teor de gordura, combina com diferentes modos de preparo e se encaixa bem em dietas de controle calórico ou ganho de massa magra.
Rica em proteínas e com praticamente zero carboidrato, a tilápia oferece ainda vitaminas A, D e do complexo B, além de minerais essenciais como cálcio, ferro e zinco. Esses elementos atuam na manutenção de ossos e dentes, fortalecem o sistema imunológico, favorecem a saúde cardiovascular e contribuem para a regeneração muscular. Outra vantagem é a presença de DHA, um tipo de ômega-3 que estimula a função cerebral e combate os radicais livres.
Aliás, esses benefícios digestivos e anti-inflamatórios ajudam a explicar por que o peixe tem ganhado espaço não apenas nas mesas, mas também nos consultórios e centros de pesquisa.
Pele da tilápia avança como aliada no tratamento de queimaduras
Foi justamente no Ceará que surgiu uma das descobertas mais promissoras envolvendo o uso da tilápia fora da alimentação. Em 2015, pesquisadores identificaram o potencial terapêutico da pele do peixe no tratamento de queimaduras de segundo e terceiro graus. A técnica, pioneira no mundo, oferece uma alternativa mais eficaz e acessível em comparação aos métodos tradicionais utilizados pelo sistema público de saúde.
A pele da tilápia apresenta alto teor de colágeno e adere naturalmente à ferida, criando uma barreira protetora contra infecções e perdas hídricas. Além disso, a aplicação reduz drasticamente a dor dos pacientes, já que evita a necessidade de trocas frequentes de curativos — procedimento considerado extremamente doloroso nesse tipo de lesão.
O material passa por um rigoroso processo de esterilização, que inclui a desidratação e a radiação em centros especializados, garantindo segurança e durabilidade. Com validade de até dois anos e meio, a pele liofilizada tem se mostrado eficaz não apenas em queimaduras, mas também em feridas complexas e até em cirurgias reconstrutivas.
Da cozinha à ciência: o futuro promissor da tilápia brasileira
Mais do que um peixe popular, a tilápia tem revelado sua capacidade de impactar áreas diversas, indo da nutrição à biotecnologia. Seu protagonismo na piscicultura nacional não se restringe aos números expressivos de produção ou ao apelo gastronômico: ele se estende às soluções inovadoras que melhoram vidas, transformam a saúde pública e ampliam as fronteiras do conhecimento científico no Brasil.
E é justamente no encontro entre tradição e inovação que o país consolida sua posição como referência global na criação e aplicação da tilápia — seja no prato, nos laboratórios ou nos leitos de recuperação hospitalar.