Resumo
A UFSC inaugurou em Florianópolis um sistema agrifotovoltaico que combina produção agrícola e geração de energia solar no mesmo terreno.
O projeto, desenvolvido com a Epagri, busca otimizar o uso do solo e reduzir impactos ambientais.
O sistema permite o cultivo sob painéis solares, aproveitando o sombreamento para proteger as plantas e reduzir a evaporação da água.
As pesquisas avaliam diferentes espécies e configurações para maximizar simultaneamente a produtividade agrícola e energética.
Financiado pela Repsol Sinopec, o projeto reforça a transição sustentável e a soberania alimentar e energética no Brasil.
A busca por soluções sustentáveis para enfrentar os desafios da segurança alimentar e da crise climática acaba de ganhar um novo aliado no Brasil. Em Florianópolis, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) inaugurou um sistema agrifotovoltaico que promete integrar o melhor de dois mundos: a produção de alimentos e a geração de energia solar no mesmo espaço.
Localizado no Sapiens Parque, o novo sistema foi instalado no Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica da universidade e marca uma nova etapa na pesquisa aplicada sobre energias renováveis. A proposta é simples, mas ousada: utilizar áreas tradicionalmente agrícolas também para produzir eletricidade, otimizando o uso do solo e reduzindo impactos ambientais. Ao permitir que uma mesma porção de terra abrigue plantações e painéis fotovoltaicos, o modelo oferece uma resposta promissora às demandas de um planeta que precisa produzir mais com menos.
Integração entre lavoura e tecnologia solar
Desenvolvido em parceria com a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), o projeto une conhecimento agronômico e inovação energética em um mesmo experimento de campo. A ideia é avaliar diferentes formatos de uso compartilhado do terreno: desde estruturas elevadas com placas solares que sombream parcialmente as culturas até sistemas instalados sobre cercas solares, ampliando o aproveitamento da terra sem sacrificar a produtividade das lavouras.
O sistema permite que cada metro quadrado do solo seja mais eficiente — tanto na produção agrícola quanto na geração de energia limpa. O sombreamento parcial provocado pelos painéis pode, inclusive, beneficiar algumas espécies vegetais, reduzindo a evaporação excessiva de água e protegendo contra o calor extremo. A UFSC coordena as soluções técnicas de energia fotovoltaica, enquanto a Epagri conduz os testes com diferentes cultivos, simulando cenários diversos para analisar quais se adaptam melhor à nova dinâmica de luz e sombra.
Pesquisas que transformam o campo
Ao longo dos próximos meses, a equipe de pesquisa pretende testar uma série de variáveis: altura dos painéis, distância entre fileiras, ângulo de inclinação, intensidade do sombreamento e diferentes tipos de culturas. Tudo para entender como maximizar a produção energética sem comprometer o desempenho agrícola.
A estrutura será usada também para medir indicadores de viabilidade econômica e ambiental do sistema. Ao gerar energia no próprio campo, os produtores reduzem a dependência de fontes externas e de redes convencionais, o que pode representar economia significativa a longo prazo. Além disso, o uso múltiplo do solo tende a aumentar a produtividade por hectare, reduzindo a pressão por desmatamento e reforçando a resiliência frente às mudanças climáticas.
Uma vitrine para o futuro da agroenergia
O projeto conta com financiamento da empresa espanhola Repsol Sinopec e apoio de outras instituições parceiras. Mais do que uma infraestrutura de pesquisa, a iniciativa da UFSC pretende se tornar um modelo replicável para outras regiões do país. A meta é clara: promover uma transição energética que seja eficiente, justa e integrada à realidade do campo brasileiro.
Para o reitor Irineu Manoel de Souza, o novo sistema representa uma virada estratégica na forma como enxergamos o uso da terra. “Produzimos mais e melhor, com menor impacto ambiental e maior segurança energética”, destacou durante a cerimônia de inauguração. Segundo ele, a inovação fortalece a soberania alimentar e valoriza o trabalho no campo ao mesmo tempo em que amplia o acesso à energia renovável. “Que este espaço seja fértil em ideias, resultados e parcerias”, concluiu, apontando a expectativa de que pesquisas e políticas públicas futuras nasçam da experiência catarinense.