No interior do Paraná, um projeto inovador está transformando um resíduo comum em um ingrediente promissor para os mercados da saúde, cosméticos e nutrição. A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), por meio do Hub de Inovação AgriTech Symbiosis no campus de Toledo, desenvolve uma pesquisa inédita focada no reaproveitamento da pele e das escamas da tilápia para a produção de colágeno hidrolisado. A proposta alia ciência, sustentabilidade e tecnologia, ao mesmo tempo em que fortalece a bioeconomia regional com soluções de alto valor agregado.
A iniciativa nasceu em 2025 como resposta a uma demanda da empresa paranaense Oestegaard Kontinuer, especializada no desenvolvimento de tecnologias para o processamento de subprodutos animais. Ao identificar o potencial inexplorado dos resíduos da tilápia, a universidade passou a investigar rotas tecnológicas para extrair colágeno com aplicação comercial e científica. Embora o Brasil seja um dos principais produtores mundiais de tilápia, grande parte dos resíduos da cadeia ainda é descartada ou direcionada para a produção de farinha de peixe, o que representa uma perda significativa de valor.
No coração da pesquisa está o princípio da economia circular. Transformar o que antes era considerado subproduto em matéria-prima nobre é uma estratégia que amplia o ciclo de vida dos recursos naturais e reduz o impacto ambiental. Ao mesmo tempo, representa uma nova fronteira para a inovação industrial no Estado. O projeto da Unioeste foi selecionado pelo programa Ageuni — Agência de Desenvolvimento Regional Sustentável — iniciativa do Governo do Paraná que busca aproximar universidade, empresas e setor público em torno de soluções tecnológicas aplicadas.

Ainda em fase experimental, as pesquisas ocorrem em laboratório e envolvem uma sequência de etapas que vai desde o pré-tratamento físico-químico dos resíduos até a extração, hidrólise, concentração e secagem do colágeno. A cada fase, os compostos extraídos são analisados para verificar suas propriedades físico-químicas e funcionais. O objetivo é estabelecer uma metodologia viável para escalonamento industrial, o que poderá futuramente impulsionar a criação de fábricas especializadas no insumo, ampliando a geração de empregos e o desenvolvimento da cadeia metalmecânica local.
Além de ser uma alternativa promissora para a indústria de colágeno, a versão hidrolisada da substância extraída da tilápia possui características vantajosas. Por sua estrutura molecular semelhante ao colágeno humano, apresenta alta absorção pelo organismo. É também uma fonte livre de contaminação por zoonoses, como as que podem ocorrer em colágenos de origem bovina ou suína, e atende a públicos que evitam esses ingredientes por razões religiosas ou dietéticas. Tudo isso torna o produto ainda mais competitivo em um mercado global que valoriza rastreabilidade e critérios éticos de produção.
O projeto é também um marco em parcerias produtivas entre universidade e indústria. A articulação entre Unioeste e Oestegaard Kontinuer fortalece o ambiente de inovação no Paraná, promovendo uma cultura de pesquisa aplicada com impacto direto na realidade econômica e ambiental da região. Enquanto a universidade amplia a formação técnica de seus estudantes e gera conhecimento de ponta, a indústria parceira encontra base sólida para desenvolver novos equipamentos e processos para o setor alimentício, cosmético e farmacêutico.