A aparência delicada das suculentas pode enganar os olhos de quem acredita que são plantas à prova de falhas. Mesmo resistentes, essas espécies também adoecem — e uma das situações mais comuns é o apodrecimento da base, das folhas ou da raiz, resultado direto do excesso de água ou de um substrato mal drenado. O problema é que, quando os sinais aparecem, muitos tutores acreditam que não há mais solução. Felizmente, nem sempre isso é verdade.
“Em geral, quando a suculenta começa a apresentar sinais de apodrecimento, ainda é possível intervir se parte da planta estiver preservada”, explica o engenheiro agrônomo Sérgio David Marim de Souza, produtor especializado em suculentas e cactos da Cactos Brasil. Aliás, quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as chances de recuperação.
Quando a suculenta dá sinais de alerta
O aspecto de uma suculenta saudável é fácil de identificar: folhas firmes, coloração vívida e formato compacto. Já uma planta doente começa a mudar de forma sutil. As folhas podem ficar moles, translúcidas ou enegrecidas, e o caule, em alguns casos, começa a ceder como se estivesse mole. “Esses são sinais típicos de que a suculenta está absorvendo mais água do que consegue metabolizar, o que afeta suas células e causa a necrose dos tecidos”, explica Eduardo Funari, engenheiro agrônomo e especialista em paisagismo tropical.
Outro indício é o cheiro: o apodrecimento, principalmente na base, exala um odor desagradável, semelhante ao de matéria orgânica em decomposição. Isso acontece quando o fungo já está agindo no interior da planta, especialmente em ambientes úmidos ou com vasos sem drenagem adequada.
Como salvar a planta antes que o apodrecimento se espalhe
O primeiro passo é interromper completamente as regas e observar a extensão dos danos. Caso a base da planta ainda esteja firme, há boas chances de recuperação apenas com a troca do substrato e reposicionamento em local bem iluminado, mas sem sol direto nas horas mais quentes. No entanto, se a parte afetada já comprometeu folhas inferiores ou o caule, será necessário um procedimento mais drástico: a decapitação.

“Quando a base já foi perdida, o ideal é retirar a parte saudável da planta com uma lâmina esterilizada e deixar o corte cicatrizar por alguns dias, em local seco e arejado”, orienta Sérgio. Após esse tempo, a nova ponta pode ser replantada em substrato próprio para suculentas — que deve conter areia, perlita e casca de arroz carbonizada — e não deve ser regada nas primeiras semanas. Isso evita o choque hídrico e permite que a planta volte a enraizar com segurança.
Iluminação, solo e ventilação: aliados da prevenção
As suculentas, por sua origem em regiões áridas e semiáridas, preferem ambientes com boa circulação de ar, sol direto ou luz difusa, e um solo que não retenha umidade por longos períodos. Quando cultivadas em ambientes internos, o risco de apodrecimento aumenta, especialmente se forem regadas com frequência ou se estiverem em vasos de cerâmica sem furos no fundo.
“Mais importante do que regar é saber quando não regar”, destaca Eduardo. Segundo ele, a melhor forma de avaliar a necessidade de irrigação é inserindo o dedo no substrato e percebendo se ele ainda está úmido. A rega deve ser feita somente quando o solo estiver completamente seco — e sempre na terra, evitando o acúmulo de água entre as folhas, que também pode desencadear o apodrecimento por fungos.
Recuperação e cuidados futuros com suculentas doentes
Depois de resgatada, a suculenta entra em um período de readaptação. É comum que as primeiras folhas ainda caiam ou fiquem amareladas, mas isso não significa que a planta está condenada. O importante é observar se o centro começa a emitir novos brotos — sinal de que a planta está enraizando e voltando ao ciclo de crescimento.
Para evitar que o problema volte a ocorrer, além da atenção com a irrigação, é interessante fazer adubações leves, preferencialmente com produtos naturais como bokashi ou húmus de minhoca. Isso fortalece o sistema radicular e melhora a resistência da planta a variações climáticas ou ataques fúngicos.
Por fim, se a suculenta está plantada junto a outras espécies que exigem umidade diferente, o melhor é separá-la. “Cada planta tem seu próprio ritmo. As suculentas, por exemplo, gostam de atenção na medida certa: mais luz, menos água e muito respeito ao seu tempo de recuperação”, resume Sérgio.