À medida que as temperaturas sobem, as plantas sentem, de maneira silenciosa e visível, os efeitos do verão. A evaporação se intensifica, o solo seca com mais rapidez e a exposição prolongada ao sol pode comprometer desde a integridade das folhas até a saúde das raízes. Saber como regar corretamente se torna, portanto, essencial não apenas para manter a beleza das espécies, mas também para preservar sua vitalidade ao longo da estação.
Segundo o paisagista Arthur Depieri, é preciso olhar com mais atenção para o comportamento das plantas em dias quentes. “A frequência da rega varia muito de acordo com o tipo de planta, o material do vaso e o ambiente. Nem sempre mais água é sinônimo de mais cuidado. É a observação diária que determina o momento certo de intervir”, afirma o especialista.
Umidade e solo: como identificar a necessidade de regar
Apesar do calor despertar a vontade imediata de molhar o jardim, o excesso de água pode ser tão nocivo quanto a seca. Entre os sinais de desidratação estão folhas murchas, bordas queimadas e substrato ressecado, enquanto o excesso revela-se por amarelamento, mau cheiro e mofo na superfície. A melhor maneira de avaliar a necessidade de rega é sentir o solo com os dedos. Se a terra grudar levemente, há umidade suficiente. Do contrário, é hora de agir.

Clariça Lima, paisagista especializada em cultivo urbano, ressalta que a nebulização pode ser aliada, desde que usada com critério. “Folhagens tropicais, como marantas e samambaias, apreciam esse reforço em dias secos. Mas jamais deve-se borrifar plantas como violetas, suculentas e cactos. Além disso, evite borrifações à noite ou sob sol pleno — essas práticas favorecem fungos ou queimaduras”, pontua.
Horário certo para a rega: menos sol, mais eficiência
A água é absorvida com mais eficiência quando aplicada no início da manhã ou no fim da tarde, momentos em que a temperatura está mais amena. Isso reduz o estresse térmico das plantas e evita a evaporação imediata. Em canteiros de jardim, a rega costuma ser suficiente duas ou três vezes por semana, mas em vasos — especialmente os menores — o solo seca mais rapidamente, e pode ser necessário regar diariamente, ou em dias alternados. Cactos e suculentas, por outro lado, mantêm intervalos longos mesmo no verão, chegando a 10 ou 20 dias entre as regas.
Espécies com folhas delicadas ou que compõem hortas, como manjericão, salsinha e alface, exigem mais atenção. “Em dias extremamente quentes, é possível que seja necessário irrigar até duas vezes ao dia, especialmente em vasos expostos ao sol direto”, orienta Arthur.
A importância do local e da luz indireta
O verão é também um desafio de localização. Posicionar plantas sensíveis em locais com incidência direta de sol forte pode resultar em queimaduras severas nas folhas e estresse hídrico. Por isso, é recomendável escolher espaços com luminosidade filtrada, como varandas sombreadas ou áreas com meia-sombra, especialmente nas horas mais quentes do dia.
Além disso, a circulação de ar deve ser levada em conta: um ambiente abafado contribui para o surgimento de fungos e pragas, e impede a correta evaporação da água do solo.
Poda e ventilação: aliadas invisíveis no calor
A manutenção visual das plantas vai muito além da estética. Folhas secas e flores murchas precisam ser removidas com frequência, já que acumulam calor, abafam o solo e dificultam a transpiração natural da planta. Essa limpeza facilita a respiração do substrato, estimula novos brotos e ajuda a planta a direcionar energia para o crescimento saudável.
Solo certo, rega equilibrada
Nem todo substrato responde da mesma forma à irrigação. Solos arenosos ou com muito cascalho drenam com velocidade e exigem regas mais frequentes, enquanto solos argilosos ou com matéria orgânica em abundância — como húmus, turfa e compostos — têm maior capacidade de retenção de umidade. “Essa composição influencia diretamente a resistência da planta ao calor e ainda a torna menos vulnerável a pragas e doenças típicas do verão”, explica Clariça.

A adubação orgânica, principalmente nas versões com húmus de minhoca ou bokashi, enriquece o solo e auxilia na retenção da umidade. Além disso, favorece o desenvolvimento das raízes, o que torna a planta mais resiliente em períodos de estresse térmico.
Vasos e recipientes: o papel dos materiais no verão
Materiais como barro e cerâmica, por serem porosos, tendem a acelerar o ressecamento do substrato. Já vasos de plástico retêm melhor a umidade, tornando-se ideais em épocas mais secas. Para quem viaja durante o verão, os vasos autoirrigáveis são aliados indispensáveis: eles liberam água de forma gradual, evitando o ressecamento total ou o encharcamento acidental.
Plantas que enfrentam bem o calor
Em tempos de sol intenso, apostar em espécies naturalmente adaptadas é uma decisão inteligente. Espécies como bromélias, suculentas, espada-de-são-jorge, jiboia, zamioculca e orquídea-borboleta demonstram maior resistência à seca e à luminosidade intensa, desde que recebam o manejo correto.
Arthur Depieri reforça que a chave está em conhecer bem o comportamento de cada planta. “Algumas espécies reagem melhor ao calor do que outras. O segredo não está apenas na rega, mas na combinação de fatores — local, substrato, poda, adubação e rotina de observação. Isso cria um ambiente equilibrado onde até as plantas mais sensíveis conseguem atravessar o verão sem perder o vigor.”



