Mesmo quem ama plantas pode cometer erros graves ao acreditar em conselhos ultrapassados ou meias-verdades espalhadas pela internet. Cuidar de uma espécie envolve mais do que regar e esperar que floresça: é preciso compreender seu comportamento natural, suas necessidades e os sinais que ela dá quando algo está errado.
Segundo o biólogo e paisagista Leonardo Paiva Correa, muitos mitos continuam circulando mesmo entre jardineiros experientes, justamente por parecerem inofensivos. “São práticas que foram passadas de geração em geração, mas que não acompanham a evolução do conhecimento sobre botânica e paisagismo”, comenta. E o pior: podem literalmente matar suas plantas.
Regar todos os dias é essencial? Nem sempre
Entre os equívocos mais perigosos está a ideia de que toda planta precisa de rega diária. Embora pareça uma prova de cuidado, o excesso de água é uma das principais causas de apodrecimento radicular — uma condição difícil de reverter. “Muitas espécies morrem afogadas. É mais comum ver planta morrendo por excesso de rega do que por falta”, afirma Leonardo. Isso ocorre porque o solo encharcado impede a oxigenação das raízes, favorecendo fungos e bactérias nocivas.

A dica, segundo ele, é sempre observar o substrato: se estiver úmido ao toque, não é hora de regar. Além disso, plantas de ambientes internos ou em vasos menores tendem a reter mais umidade, exigindo menos frequência de irrigação. Espécies como suculentas e cactos, por exemplo, precisam de intervalos maiores, mesmo em dias quentes.
Prato com água embaixo do vaso: vilão disfarçado
Outro mito comum é acreditar que o pratinho sob o vaso serve para manter a planta hidratada por mais tempo. Na verdade, ele cria um ambiente ideal para a proliferação de larvas de mosquito da dengue e ainda favorece o surgimento de fungos e mofos. A recomendação da jardineira Mel Maria é clara: “Evite deixar água acumulada no pratinho. Se for utilizá-lo, o ideal é esvaziá-lo logo após a rega, para não comprometer as raízes nem a saúde do ambiente”.
Ela também orienta o uso de vasos com boa drenagem e substratos aerados, como misturas com perlita, casca de pinus ou areia lavada, que ajudam a evitar o acúmulo de umidade.
Folhas amareladas sempre significam falta de água?
Não necessariamente. Muitas pessoas interpretam o amarelamento das folhas como um pedido de mais rega, mas esse sinal pode indicar desde excesso de luz até deficiência nutricional ou ataque de pragas.
“O amarelado pode ser causado por clorose, falta de nitrogênio ou até mudanças bruscas de ambiente”, explica Mel Maria. Por isso, ao invés de simplesmente adicionar mais água, é preciso observar outros fatores como a exposição solar, o tipo de solo e o padrão de crescimento da planta.
Toda planta precisa de sol direto?
Nem todas. Este é um dos mitos mais prejudiciais, principalmente quando se tenta cultivar espécies de sombra sob luz solar intensa. Muitas plantas tropicais, como samambaias e zamioculcas, preferem luz indireta e se queimam facilmente quando expostas diretamente ao sol. “A adaptação luminosa de cada planta varia. Algumas são de sub-bosque, ou seja, evoluíram sob copas de árvores, recebendo luz filtrada”, explica Leonardo. Colocá-las sob sol direto pode provocar manchas nas folhas, desidratação e até morte por estresse térmico.
Por outro lado, espécies que exigem sol pleno, como roseiras e lavandas, definham em locais sombreados, com crescimento fraco e poucas flores.
Casca de ovo, borra de café e água de arroz funcionam como adubo?
Apesar de serem práticas comuns na jardinagem doméstica, esses itens não substituem um bom manejo de adubação. A casca de ovo, por exemplo, até contém cálcio, mas sua liberação no solo é lenta e muitas vezes ineficiente. Já a borra de café altera o pH do solo e pode favorecer o surgimento de fungos. A água de arroz, por sua vez, pode gerar mau cheiro e atrair pragas se usada com frequência. “O melhor caminho é apostar em adubos orgânicos equilibrados ou produtos naturais validados para jardinagem, como o bokashi ou o húmus de minhoca”, recomenda Mel Maria.

Ela lembra ainda que cada planta tem suas exigências nutricionais e, por isso, o ideal é buscar uma adubação personalizada conforme o tipo de espécie, estação do ano e ambiente onde está cultivada.
Cuidar de plantas exige mais escuta do que receita
Por fim, o maior mito de todos é acreditar que existe uma fórmula universal de cuidados que funcione para qualquer espécie. Cada planta tem sua própria linguagem e responderá de maneira diferente ao ambiente, clima, tipo de solo e rotina de cuidados. Observar as folhas, o ritmo de crescimento, a resposta à rega e à luminosidade é essencial para adaptar os cuidados à realidade da planta, e não o contrário.
Segundo Leonardo, “quando passamos a enxergar as plantas como seres vivos com necessidades específicas — e não como objetos decorativos —, o cultivo se transforma. É nesse ponto que o jardim começa a florescer de verdade”.



