A pecuária de corte vive um momento de atenção redobrada no mercado de reposição. Agosto de 2025 trouxe uma combinação pouco comum: valorização do bezerro e, ao mesmo tempo, uma relação de troca vantajosa para quem estava preparado para investir. Esse cenário, que pode não se repetir tão cedo, reaqueceu os movimentos no campo e chamou a atenção de criadores e recriadores, especialmente em estados como São Paulo.
Segundo levantamento da Scot Consultoria, o bezerro de desmama (6,5 arrobas) acumulou uma valorização anual de 33,6%. A arroba, que em agosto de 2024 era cotada a R$ 292,26, passou para R$ 390,60 em 2025. A tendência também se confirmou no bezerro de ano (8,0@), cuja valorização foi ainda mais expressiva: 34,3%, com a arroba saltando de R$ 270,98 para R$ 364,02 no mesmo intervalo.
Oferta enxuta e cenário construído desde 2021
O avanço nos preços tem origem clara: a menor disponibilidade de bezerros no mercado. Desde 2021, o volume de vacas e novilhas destinadas ao abate tem crescido de maneira constante, comprometendo a reposição natural dos rebanhos. Como consequência direta, a oferta de animais jovens tornou-se mais limitada, puxando os preços para cima e acirrando a concorrência entre compradores.
Entretanto, mesmo em meio a esse encarecimento, agosto apresentou uma condição atípica. Em São Paulo, a venda de um boi gordo de 19 arrobas foi suficiente para adquirir, em média, 2,26 bezerros de desmama — uma relação de troca que não era observada desde abril, quando o índice chegou a 2,29. Trata-se de um dos melhores poderes de compra dos últimos meses, especialmente considerando o comportamento crescente das cotações.
Relação de troca perde fôlego, mas ainda é atrativa
Apesar do desempenho positivo, os dados mais recentes mostram que essa janela tende a se estreitar. Semana após semana, a relação de troca já vem apresentando sinais de enfraquecimento, reduzindo o potencial de aquisição para quem ainda não se movimentou.
Ainda assim, o cenário atual permanece relativamente favorável. Para o pecuarista com disponibilidade de caixa e estrutura de forragem estabelecida, antecipar a reposição pode ser uma decisão estratégica. Agosto ofereceu um raro equilíbrio entre preços altos e relação de troca vantajosa — e aproveitar esse momento pode significar maior margem na etapa final do ciclo pecuário.
Expectativas para o segundo semestre e atenção redobrada
Historicamente, o segundo semestre costuma sustentar os patamares de preço tanto para o bezerro quanto para o boi gordo. Isso significa que novas oportunidades tão equilibradas como a de agosto podem se tornar escassas nos próximos meses. A tendência é que as cotações se mantenham firmes, limitando o poder de barganha para quem deixar para investir mais adiante.
A recomendação implícita, portanto, é de cautela com o tempo de resposta. Em um mercado cada vez mais dinâmico e sensível à oferta, agir com previsibilidade e antecipação pode ser o diferencial entre o custo operacional e a lucratividade real da fazenda.