A notícia das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre a carne bovina brasileira gerou um impacto imediato nos bastidores da pecuária nacional. A reação veio ainda antes da oficialização da medida, no dia 9 de julho, quando o ex-presidente Donald Trump anunciou o novo entrave comercial. No dia seguinte, o mercado já dava sinais claros de instabilidade: a arroba do boi gordo caiu cerca de 10%, descolando-se completamente da lógica esperada por quem vive do campo.
A pressão dos frigoríficos sobre o preço pago aos produtores se intensificou, mesmo sem uma justificativa direta relacionada à oferta ou à demanda local. Produtores afirmam que, apesar da importância do mercado norte-americano, a carne brasileira possui alternativas comerciais, tanto internas quanto em outros países importadores. Por isso, a queda imediata dos preços da arroba foi vista com estranhamento em diversas regiões pecuaristas do país.
A interpretação predominante entre os produtores é que o impacto financeiro da perda momentânea dos EUA como destino pode ser realocado com a redireção dos embarques. Embora o mercado norte-americano tenha movimentado mais de 1 bilhão de dólares apenas no primeiro semestre deste ano, em volume físico, a carne pode ser redistribuída a mercados já existentes ou até reforçar o consumo interno, sem necessariamente provocar um excesso de produto e consequente queda de preços.
Entressafra e expectativa de retomada aquecem esperança no campo
Em meio à turbulência, a orientação da União Nacional de Pecuária aos seus associados foi direta: vender apenas o suficiente para cumprir obrigações financeiras e adotar uma postura de espera até que o mercado apresente sinais concretos de recuperação. Essa estratégia ganhou força com a chegada do período de entressafra, época do ano marcada por menor oferta de bois prontos para o abate, o que historicamente tende a pressionar os preços para cima.
A percepção é que a baixa atual da arroba não se sustenta por fundamentos consistentes. A demanda por carne, tanto no Brasil quanto no exterior, segue firme. Com isso, muitos produtores começaram a adotar táticas como a retenção de animais em fase de terminação, ajustando o cronograma de abate para os últimos meses do ano ou até o início do próximo. A ideia é simples: segurar agora para vender melhor depois.
Descompasso entre o campo e a indústria amplia insegurança
A assimetria entre o impacto político da tarifa e o efeito econômico imediato no valor pago ao pecuarista gerou revolta e cautela em regiões produtoras. Em estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que abastecem frigoríficos voltados majoritariamente à exportação, a sensação é de que a indústria antecipou uma crise que ainda não se concretizou em volume. Não houve queda brusca na demanda global, tampouco no consumo interno.
O clima, no entanto, é de incerteza. O setor acompanha diariamente os movimentos do mercado internacional e as possíveis reações diplomáticas do Brasil diante da medida norte-americana. Enquanto isso, a recomendação nas fazendas continua a mesma: paciência, planejamento e foco na sustentabilidade financeira da operação.