Volume do gás cresceu 6% em quatro anos, puxado pela pecuária, e coloca o país entre os maiores emissores do mundo
Desde que aderiu ao Compromisso Global do Metano na COP26, o Brasil se comprometeu a reduzir em 30% suas emissões desse gás até 2030. No entanto, os números mais recentes revelam uma trajetória oposta. De acordo com o novo relatório do Observatório do Clima, divulgado em 27 de março, as emissões de metano no território nacional subiram 6% entre 2020 e 2023, totalizando 21,1 milhões de toneladas apenas no último ano.
O levantamento confirma um cenário de alerta, principalmente porque o metano (CH₄) tem um potencial de aquecimento 28 vezes maior que o dióxido de carbono. Embora sua permanência na atmosfera seja mais curta, sua ação como gás de efeito estufa é significativamente mais potente no curto prazo.
A força da pecuária no avanço das emissões
O setor agropecuário é o grande protagonista dessa alta. Em 2023, ele respondeu por impressionantes 75,6% das emissões de metano do país, somando 15,7 milhões de toneladas. Dentro desse número, 98% têm origem na pecuária, principalmente na chamada fermentação entérica do gado — o processo digestivo dos ruminantes que libera gás metano, popularmente conhecido como “arroto do boi”.
Essa quantidade corresponde a 406 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (CO₂e), superando, por exemplo, todas as emissões anuais de gases de efeito estufa da Itália, conforme ressalta o Observatório do Clima.
Lixo e queimadas também têm peso no balanço
Além do rebanho bovino, o setor de resíduos ocupa a segunda colocação entre os maiores emissores de metano. Foram 3,1 milhões de toneladas em 2023, impulsionadas principalmente pelo descarte incorreto de lixo orgânico em lixões e aterros sanitários mal gerenciados.
Outros setores também contribuíram para o aumento do CH₄, ainda que em menor escala. As mudanças de uso da terra e florestas, com destaque para queimadas, lançaram 1,33 milhão de toneladas do gás. Já o setor de energia liberou cerca de 550 mil toneladas, e a indústria, mesmo com impacto reduzido, somou 20 mil toneladas no período analisado.
O compromisso assumido e o crescimento contínuo
Em 2021, o Brasil integrou oficialmente o Compromisso Global do Metano, ao lado de outros 150 países signatários. A meta pactuada previa reduzir em 30% as emissões até 2030, tomando 2020 como ano de referência. No entanto, desde 2015, o país tem mostrado crescimento constante nas emissões, em contradição com os esforços exigidos para enfrentar a crise climática.
Com esses números, o Brasil se mantém na quinta posição entre os maiores emissores de metano do planeta, atrás apenas de China, Estados Unidos, Índia e Rússia.