Em tempos de cobrança crescente por práticas agrícolas responsáveis, a pecuária sustentável no Brasil emerge como resposta à demanda por sistemas produtivos que preservem o solo, reduzam emissões e ainda mantenham a competitividade da carne bovina no cenário global. Nesse contexto, a suplementação alimentar ganha papel estratégico. Mais do que garantir desempenho zootécnico, ela se transforma em ferramenta para preservar recursos e otimizar o uso da terra.
Segundo a zootecnista Paula Messias, especialista em manejo nutricional e consultora técnica no Centro de Estudos em Bovinocultura Tropical, o uso correto de suplementos minerais e proteico-energéticos pode reduzir significativamente a emissão de metano por quilo de carne produzida. “A suplementação adequada acelera o ganho de peso, reduz o tempo de permanência do animal no sistema e, com isso, diminui a pegada ambiental da produção”, destaca.
A lógica por trás do cocho: mais nutrientes, menos impactos
Quando bem planejada, a suplementação alimentar corrige deficiências da pastagem e melhora a conversão alimentar. O Brasil, embora rico em forragem natural, apresenta sazonalidade marcada. Na seca, a queda na qualidade e quantidade da pastagem compromete o desempenho animal. “É nesse momento que a suplementação não só evita perdas, como potencializa o desempenho”, explica o médico veterinário Guilherme Azevedo, especialista em nutrição de ruminantes e professor na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul.
Azevedo reforça que, além da tradicional suplementação mineral, estratégias como o uso de ureia protegida, proteinados de seca e concentrados energéticos permitem que o animal expresse seu potencial genético em sistemas de recria e engorda, mesmo em condições adversas.
Além disso, a suplementação contribui para melhorar a eficiência reprodutiva das matrizes, uma vez que o estado nutricional está diretamente ligado à ciclicidade ovariana, taxa de prenhez e desmame. “Animais bem nutridos têm maior índice de fertilidade, o que impacta diretamente na produtividade do rebanho e no uso racional da terra”, afirma o especialista.
Suplementação como aliada na integração lavoura-pecuária
Nos sistemas integrados, como a integração lavoura-pecuária (ILP) ou o sistema Antecipasto, a suplementação ajuda a equilibrar a demanda nutricional dos animais com o tempo de ocupação do pasto. Isso permite uma taxa de lotação mais alta sem comprometer a sustentabilidade do sistema. Nesse arranjo, o planejamento alimentar se ajusta ao uso inteligente da área produtiva, evitando sobrepastejo e compactação do solo.
A pecuária sustentável no Brasil, portanto, depende cada vez mais de uma abordagem multidisciplinar, onde a nutrição animal deixa de ser apenas um custo e passa a ser um investimento estratégico — tanto em produtividade quanto em responsabilidade ambiental.
Avanços tecnológicos e rastreabilidade da nutrição
Com o avanço das tecnologias no campo, já é possível monitorar o desempenho do rebanho por meio de ferramentas digitais que analisam consumo, comportamento e conversão alimentar. Aliás, há fazendas que já adotam protocolos de rastreabilidade nutricional, garantindo ao consumidor final um produto oriundo de sistemas éticos, eficientes e comprometidos com o futuro do planeta.
“A tecnologia ajuda a entender melhor o que funciona para cada categoria animal, em diferentes ambientes e sistemas de produção. Isso nos permite ser mais assertivos, evitando desperdícios e maximizando resultados”, comenta Paula Messias.
Com práticas de suplementação planejadas e integradas ao manejo do pasto, a bovinocultura brasileira caminha com mais segurança rumo a metas de produtividade associadas à conservação. E o cocho, que antes era apenas um detalhe do curral, hoje é parte fundamental da transformação da pecuária no Brasil.