A transição para a estação seca é um dos períodos mais desafiadores para quem lida com pecuária. Com a redução da umidade, o capim perde vigor, as fontes de água diminuem e os riscos de doenças silenciosas se multiplicam. Nessa fase, o produtor precisa mais do que nunca de um olhar atento e estratégias sólidas para garantir o bem-estar e o desempenho do rebanho — e evitar prejuízos que podem comprometer a rentabilidade de toda a safra.
Segundo o zootecnista e consultor técnico Antônio Sérgio Gonçalves, um dos maiores erros dos pecuaristas durante a seca é esperar os sinais de fraqueza para agir. “A seca não chega de surpresa. É preciso iniciar o planejamento no final do período das águas, antecipando o armazenamento de forragens e preparando o sistema de suplementação”, orienta. Para ele, a palavra-chave é prevenção, pois reverter perdas nutricionais e sanitárias no auge da estiagem é mais caro e, muitas vezes, inviável.
Nutrição estratégica para enfrentar a seca com vigor
Com a escassez de pastagens verdes, o rebanho sofre uma queda acentuada na ingestão de proteína e energia. A qualidade do capim se deteriora rapidamente e, se não houver substituição adequada, o animal começa a mobilizar suas reservas corporais, perdendo peso e imunidade. Nesse cenário, a suplementação torna-se indispensável.
“O ideal é entrar na seca com um estoque bem planejado de silagem, feno ou capim pré-secado. Além disso, o fornecimento de suplementos proteicos, energéticos ou minerais deve ser ajustado conforme a categoria animal e o tipo de pastagem disponível”, explica o médico-veterinário Tiago Ribeiro Souza, especialista em produção animal. Ele ainda destaca que as vacas em lactação e os bezerros demandam atenção especial, pois têm necessidades nutricionais mais exigentes.
Além disso, o uso de sal proteinado durante a seca ajuda a manter a fermentação ruminal e a digestão de volumosos pobres. Outra tática eficaz, segundo Tiago, é o uso de sistemas rotacionados, que conservam melhor o pasto e garantem maior aproveitamento da área disponível.
Água de qualidade é tão importante quanto alimento
A desidratação é um dos riscos mais graves — e muitas vezes negligenciados — da estação seca. Sem reposição adequada de água, o animal reduz o consumo de ração e pasto, afetando diretamente o metabolismo. A escassez hídrica também favorece infecções e quadros de estresse térmico, comprometendo o desempenho zootécnico.

Por isso, o monitoramento das fontes de água deve ser constante. “Reservatórios e bebedouros devem estar sempre limpos, em locais sombreados e com acesso facilitado. Em muitas propriedades, o gado caminha longas distâncias até encontrar água, o que gera gasto energético desnecessário”, alerta Antônio Sérgio. Quando possível, a instalação de bebedouros em pontos estratégicos das pastagens pode reduzir esse desgaste e otimizar o manejo.
Além da quantidade, a qualidade da água merece atenção especial. Água contaminada por fezes, folhas ou resíduos orgânicos pode disseminar verminoses e diarreias, agravando o quadro de desnutrição.
Sanidade e manejo: prevenir é o melhor tratamento
As altas temperaturas, associadas ao estresse hídrico e nutricional, formam um cenário propício ao surgimento de doenças. Casos de verminoses, mastites, pneumonia e até intoxicações alimentares se tornam mais frequentes na estação seca. O controle sanitário deve ser reforçado com vermifugações periódicas, vacinação em dia e atenção a possíveis surtos.
“Durante a seca, o organismo do animal está mais vulnerável. Um simples desequilíbrio pode abrir as portas para infecções oportunistas”, reforça Tiago Ribeiro. Ele recomenda que o pecuarista observe com frequência o comportamento do rebanho, verificando sinais como apatia, emagrecimento, alteração nas fezes ou queda de produtividade.
Além disso, o manejo de sombra e conforto térmico deve ser considerado. Locais com árvores ou coberturas naturais ajudam a amenizar o impacto do calor extremo, especialmente nas horas mais quentes do dia.