A vida no campo tem reencontrado um de seus pilares mais tradicionais: a criação de galinhas caipiras. Seja para garantir uma alimentação mais saudável na mesa da família, seja como estratégia de renda complementar, essa prática tem conquistado espaço entre pequenos produtores e famílias que apostam na agropecuária sustentável. Além disso, trata-se de uma atividade acessível, de baixo investimento inicial e com retorno rápido — desde que bem planejada.
Para muitos produtores rurais, criar galinhas caipiras vai além de uma questão econômica. É também uma escolha por métodos mais naturais, respeitando o ciclo de vida dos animais e valorizando o sabor e a qualidade dos alimentos que chegam à mesa. “A criação caipira oferece ovos e carnes mais saudáveis, sem a presença de hormônios, o que desperta o interesse dos consumidores urbanos”, explica o zootecnista André Valverde, especialista em produção de pequenos animais.
Começando com o pé direito: espaço, ambiente e escolha das aves
O primeiro passo para iniciar uma criação de galinhas caipiras é entender o perfil da propriedade e organizar um espaço seguro, seco e arejado para os animais. Ao contrário do que muitos pensam, não é necessário ter grandes estruturas: um pequeno galinheiro com acesso a um piquete para pastejo já garante condições ideais para o bem-estar das aves. O importante é que o ambiente proporcione proteção contra predadores, boa ventilação e facilidade de limpeza.

Segundo a médica veterinária e extensionista rural Larissa Ramos, o conforto térmico é determinante para a produtividade. “As aves precisam de sombra durante o calor e abrigo nos dias frios. Uma estrutura simples, feita com materiais locais como bambu, madeira e telhas recicladas, já é suficiente se bem posicionada”, orienta.
A escolha da linhagem também influencia nos resultados. Galinhas de origem caipira ou de raças rústicas, como Índio Gigante, Pescoço Pelado e Canela Preta, costumam ter maior resistência a doenças, boa adaptação ao ambiente e excelente qualidade de carne e ovos. Para quem está começando, adquirir pintinhos de um fornecedor confiável ou incubar ovos férteis pode ser a porta de entrada para um plantel saudável e produtivo.
Alimentação e manejo: base do sucesso no campo
Um dos grandes diferenciais da criação caipira é a alimentação diversificada. As galinhas podem se beneficiar do pastejo livre, consumindo grama, insetos e restos vegetais, o que contribui para a rusticidade e o sabor característico dos produtos. Entretanto, é fundamental garantir uma dieta equilibrada. Além do acesso a forragem natural, as aves devem receber uma ração balanceada, preferencialmente à base de milho, farelo de soja e suplemento mineral.

De acordo com André Valverde, o manejo alimentar impacta diretamente na taxa de postura e ganho de peso. “É possível aliar práticas sustentáveis como o uso de sobras da cozinha, hortaliças e frutas descartadas, desde que em bom estado. Isso reduz custos e favorece um ciclo mais ecológico dentro da propriedade”, afirma o zootecnista.
Além da nutrição, a rotina de manejo inclui o fornecimento de água limpa, cuidados sanitários básicos e o monitoramento do estado de saúde das aves. A vermifugação periódica e a limpeza frequente do galinheiro são práticas indispensáveis para evitar infestações e doenças comuns em criações mal cuidadas.
Produção familiar e retorno financeiro
Em pequenas propriedades, a criação de galinhas caipiras se encaixa perfeitamente no sistema de produção agroecológico, muitas vezes complementando outras atividades como hortas, pomares e produção de leite. A vantagem é que as aves exigem pouco espaço e tempo de manejo, permitindo que toda a família participe dos cuidados diários.
A comercialização pode começar dentro da própria comunidade, seja por meio da venda de ovos frescos, galinhas vivas ou carne já abatida. Feiras livres, grupos de consumo consciente e mercados locais têm se mostrado canais promissores para esse tipo de produto. “Muitas famílias encontram na criação caipira uma forma de diversificar sua renda sem depender exclusivamente de um único cultivo”, destaca Larissa Ramos.
O investimento inicial em estrutura e compra de aves costuma se pagar em poucos meses, principalmente quando há planejamento e foco em qualidade. A partir de 20 a 30 aves, já é possível manter uma produção viável para consumo próprio e venda ocasional. Com o tempo, o criador pode expandir o plantel, melhorar as instalações e aumentar a oferta, sempre de forma gradual e consciente.