Nos primeiros dias de vida, o bezerro está em sua fase mais vulnerável. O sistema imunológico ainda está em desenvolvimento, e qualquer falha no manejo pode abrir espaço para doenças que comprometem o crescimento e até a sobrevivência do animal. Entre os desafios sanitários mais recorrentes nas fazendas está a diarreia em bezerros, uma enfermidade que, apesar de comum, exige atenção imediata e estratégias eficientes de controle.
Aliás, não se trata apenas de um transtorno passageiro. A diarreia neonatal compromete o desenvolvimento fisiológico, afeta a absorção de nutrientes e pode levar à morte caso não seja diagnosticada e tratada com rapidez. Além disso, os impactos econômicos são significativos, já que o animal perde desempenho zootécnico e pode demandar cuidados intensivos por vários dias.
Entendendo as causas da diarreia neonatal
A origem da diarreia em bezerros é multifatorial. Pode ser causada por agentes infecciosos, como bactérias e vírus, mas também está relacionada ao manejo inadequado nos primeiros dias de vida. De acordo com o médico veterinário e consultor agropecuário Raul Mancini, os principais patógenos envolvidos são Escherichia coli, rotavírus, coronavírus e Cryptosporidium parvum. “Esses agentes são altamente contagiosos e podem estar presentes no ambiente, nas tetas da vaca ou até mesmo nos utensílios usados para fornecer o colostro”, explica ele.
Entretanto, o ambiente também tem papel determinante. Ambientes úmidos, com acúmulo de matéria orgânica e sem higienização adequada, favorecem a proliferação desses microrganismos. A falha no fornecimento do colostro nas primeiras horas de vida também é um dos gatilhos mais críticos, já que o colostro fornece imunidade passiva essencial para que o bezerro resista aos primeiros desafios sanitários. “A qualidade, a quantidade e o tempo de fornecimento do colostro são os três pilares da prevenção”, reforça Raul.
Sinais clínicos e impacto no rebanho
Os sinais clínicos costumam surgir entre o segundo e o sétimo dia de vida. Além das fezes líquidas, muitas vezes amareladas ou esbranquiçadas, os bezerros apresentam apatia, perda de apetite e desidratação. A gravidade dos sintomas depende da carga infecciosa, da condição imunológica do animal e da resposta do manejo frente ao quadro.
Segundo a zootecnista Camila Torres, especializada em saúde neonatal de bovinos, o produtor deve agir rapidamente diante de qualquer sinal de fezes amolecidas. “Quanto antes o tratamento for iniciado, menor será a perda de peso, o tempo de recuperação e o risco de mortalidade”, afirma. Ela alerta que os casos não tratados evoluem para desidratação severa e acidose metabólica, podendo levar o animal à morte em poucas horas.
Estratégias para prevenção eficaz
A melhor abordagem é sempre a preventiva. Manter a maternidade limpa, seca e com cama renovada frequentemente é uma das primeiras atitudes. Além disso, garantir que o bezerro mame o colostro nas primeiras duas horas de vida faz toda a diferença. “É nesse momento que a absorção de anticorpos é mais eficiente”, destaca Camila.
Outro ponto crucial está no controle de natalidade dos patógenos dentro da propriedade. Isso inclui medidas como a desinfecção adequada dos equipamentos, isolamento de animais doentes e atenção redobrada ao manejo de lotes nascimentos. Vacinas contra rotavírus, coronavírus e E. coli também estão disponíveis para as matrizes e podem reduzir significativamente a ocorrência da doença nos recém-nascidos.
Tratamento e cuidados imediatos
Uma vez diagnosticada a diarreia, o tratamento deve ser iniciado sem demora. O foco principal deve ser na hidratação oral ou intravenosa, dependendo da gravidade do caso. Antibióticos e anti-inflamatórios só devem ser usados sob orientação veterinária, já que o uso indiscriminado pode comprometer a flora intestinal e não surtir o efeito desejado se a origem for viral ou parasitária.
“A reidratação é a primeira linha de defesa. Água limpa, soluções eletrolíticas e acompanhamento constante são essenciais para garantir a recuperação do animal”, reforça Raul Mancini. Em propriedades maiores, é importante capacitar os colaboradores para reconhecerem os primeiros sinais e fazerem a triagem rapidamente.
Além disso, a suplementação nutricional pode ajudar na recuperação do trato digestivo. O fornecimento de probióticos e prebióticos, quando orientado por um profissional, pode acelerar a restauração da microbiota intestinal e contribuir para o bem-estar geral do animal.