A paisagem seca dos campos brasileiros, típica da transição entre julho e agosto, tem sido mais do que um sinal da estiagem: é o reflexo de um período de desafio e reposicionamento estratégico para os pecuaristas.
Em um cenário no qual a pastagem perde qualidade e a suplementação se torna inevitável, os custos de produção voltam a subir, enquanto os preços do boi gordo ensaiam uma recuperação após semanas de retração. A dinâmica do setor, marcada por uma balança delicada entre oferta e demanda, exige agora cautela e adaptação diante da incerteza climática e dos reflexos econômicos desse período.
Retenção de animais reduz oferta e impulsiona cotações da arroba
Depois de registrar sucessivas quedas ao longo de julho, o mercado pecuário iniciou agosto com sinais de reação. Nas principais praças de comercialização, como o estado de São Paulo, os preços dos cortes bovinos voltaram a subir, encerrando um jejum de valorização que persistia desde meados de junho. Essa inflexão tem origem na própria decisão dos produtores, que optaram por reter os animais em resposta ao recuo das cotações. A estratégia, ainda que arriscada diante do avanço da seca, teve efeito imediato sobre a oferta e, por consequência, nos preços da arroba.
Conforme indicam os dados levantados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a diminuição do volume de animais disponíveis para o abate causou ajustes não apenas no mercado físico, mas também no atacado, onde os preços dos cortes com osso voltaram a subir. Essa movimentação sugere que o mercado, mesmo pressionado pelos custos, ainda responde de forma sensível a mudanças no comportamento da oferta.
Custos sobem com a estiagem e desafiam a margem do produtor
A valorização pontual dos preços, no entanto, não elimina as preocupações com a rentabilidade. O período entre agosto e setembro é historicamente crítico para o manejo das pastagens, e em 2025 não tem sido diferente. A redução na disponibilidade e na qualidade do pasto obriga o produtor a investir em suplementação alimentar, elevando os custos de manutenção do rebanho. Isso significa que, mesmo sem previsão imediata de abate, os desembolsos crescem — e as margens, por sua vez, continuam estreitas.
Esse descompasso entre o custo da produção e os valores de venda, que ainda estão aquém dos praticados no primeiro semestre, impõe um ritmo mais conservador ao mercado. Muitos produtores seguem monitorando de perto os indicadores de oferta, demanda e clima, antes de tomar novas decisões de venda.
Expectativa se volta para a estabilidade nas próximas semanas
Com os preços tentando se firmar em novo patamar, a expectativa se concentra agora na capacidade de sustentação dessa leve tendência de valorização. A permanência do clima seco e os efeitos da estiagem sobre as pastagens devem manter os custos elevados por mais algumas semanas. Por outro lado, a redução do ritmo de oferta tende a manter o mercado ajustado, o que pode favorecer novos reajustes nos preços da arroba, especialmente se a demanda interna apresentar sinais de recuperação.
O que está em jogo não é apenas a cotação da arroba ou o custo do milho, mas a própria sobrevivência do produtor diante de um ciclo cada vez mais volátil, influenciado pelas condições climáticas e por um consumidor mais sensível aos preços. Em tempos de seca e incerteza, o equilíbrio entre o pasto que falta e o mercado que oscila exige atenção redobrada — e decisões certeiras.