Durante o outono e o inverno, o cenário muda nas pastagens brasileiras. A coloração viva do capim dá lugar ao aspecto seco, e os pecuaristas precisam agir com precisão para evitar que a escassez de forragem comprometa a produtividade do rebanho. É justamente nessa época que o manejo de pasto se torna determinante para o sucesso da atividade pecuária, sobretudo em regiões com longa estiagem e quedas de temperatura significativas.
Com menor crescimento das plantas forrageiras, a nutrição dos bovinos passa a exigir planejamento prévio e decisões estratégicas para assegurar o desempenho zootécnico dos animais. “A base de todo bom manejo de pastagem no inverno começa no verão”, destaca o engenheiro agrônomo Pedro Alvim, especialista em pastagens tropicais. Segundo ele, preparar a área com adubação e rotação de piquetes ainda no período chuvoso é o que garante volume e qualidade na reserva de forragem, especialmente se o produtor optar por sistemas com feno ou silagem.
Além disso, é fundamental observar o ponto de corte do pastejo nos meses anteriores ao frio. Cortar o capim muito baixo compromete a rebrota e aumenta o risco de degradação da área. “As raízes enfraquecem e o solo fica mais exposto, o que abre caminho para invasoras e compactação”, alerta a zootecnista Roberta Esteves, pesquisadora em sistemas de produção bovina. Para ela, conservar o vigor do pasto nos meses secos é uma forma de preservar o capital produtivo da fazenda.

Outra alternativa importante para atravessar o inverno sem comprometer o escore corporal dos animais é o uso de plantas forrageiras adaptadas à estação. Espécies como aveia, azevém e trigo forrageiro, por exemplo, podem ser implantadas em sistemas de integração ou áreas específicas, fornecendo alimento de qualidade nos momentos em que o capim tropical entra em dormência. Roberta reforça que essas opções são especialmente interessantes em propriedades com boa mecanização, já que exigem preparo do solo, semeadura e manejo técnico mais apurado.
Contudo, nem todos os sistemas precisam ser substituídos por forrageiras de inverno. Em muitas fazendas, é possível intensificar o uso de pasto seco aliado à suplementação estratégica com ração, proteinado ou sal mineral. “O importante é monitorar o consumo e garantir que o fornecimento atenda às exigências nutricionais de manutenção e ganho de peso”, afirma Pedro. Segundo ele, mesmo os sistemas mais simples podem se beneficiar da suplementação na seca, com retorno garantido na taxa de lotação e nos índices de produtividade.
Já a recuperação de pastagens degradadas — problema comum agravado no inverno — exige atenção redobrada. A baixa cobertura do solo aumenta a erosão e reduz ainda mais a capacidade de suporte. Para lidar com esse cenário, os especialistas recomendam técnicas como sobressemeadura com gramíneas adaptadas, aplicação de corretivos e fertilizantes, além de descanso da área, se possível. “Não há milagre para pasto degradado, mas há manejo. O produtor precisa conhecer o solo, investir na estrutura física e biológica da pastagem e buscar assistência técnica sempre que possível”, aconselha Roberta.